Então é Natal, e o que você fez? Questiona a frase de uma das versões da música de John Lennon que mais se aproximam do sentido dessa data marcante. Nesta época do ano, diversas propostas acerca do Natal se apresentam à sociedade: é um momento para consumir, gastar o 13º salário com presentes, a fim de demonstrar carinho e afeto pelas pessoas mais próximas; praticar a solidariedade junto àqueles que mais precisam ou viver intensamente o Advento à espera do menino Jesus, o aniversariante do dia 25 de dezembro?

Com relação ao consumo, que parece estar à flor da pele das pessoas nessa época do ano, a prof.a da Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Federal de Goiás (UFG), Janine Collaço, que conduz uma pesquisa sobre consumo urbano de alimentos e desperdício, diz que essa prática sempre existiu. Mas é preciso fazer uma distinção. Segundo ela, existem a sociedade de consumo e a sociedade para o consumo. É nesta última que aparece o sentido da insaciabilidade, e, portanto o consumismo. Ela alerta que nem todas as esferas sociais se conectam a esse ato. “Nem todos consomem desesperadamente, pois temos diversos tipos de consumo”.

Collaço explica que o ato de consumir é uma prática ocidental que produz e produz muito para mostrar a opulência sobre o resto do mundo. No Ocidente, de acordo com ela, as relações sociais são percebidas primeiramente entre pessoas e bens. Nas sociedades de Corte, por exemplo, essa percepção é diferente. “As pessoas consomem para registrar a passagem do tempo e assim definir a sua posição social entre os membros e seu grupo ou comunidade pela tradição e ancestralidade”. O certo é que o sentido do consumo não é igual para todos. “São muitos grupos sociais e com olhares culturais diferentes; se poupar é algo bom para o futuro, nem todos querem abrir mão do bem estar de hoje. Precisamos olhar o sentido do consumo na vida das pessoas, para não corrermos o risco de reforçar estereótipos. Por exemplo, o consumo proporciona boas sensações a uma vasta camada da população que não tinha esse acesso”, diz.

Satisfação... Apenas imediata

A psicóloga clínica Arilda Ximenes não tem dúvidas de que o consumo, principalmente exagerado, traz boas sensações às pessoas, mas apenas momentâneas. O que, de acordo com ela não caracteriza felicidade. “Às vezes dizemos sou feliz, mas o mais adequado é dizer estou feliz agora. A nossa emoção é o que define os estados de felicidade ou infelicidade influenciada pelo nosso ambiente psíquico, muito mais do que nosso ambiente geográfico em si. O perigo mora em achar que a felicidade está apenas na nossa relação material com o outro, quando na verdade ela é definida como percebemos a nós mesmos”.

Em longo prazo, ela explica que o consumismo desenfreado pode tornar as pessoas instáveis emocionalmente, agressivas, frustradas, depressivas, intolerantes com o outro, impotentes por não alcançarem seus objetivos, além de influenciar negativamente a formação da personalidade sobre o valor da vida. A lista vale também para as crianças. E como isso pode ser contornado, de modo especial no período natalino? “Amando o outro afetivamente no plano pessoa para pessoa e não pessoa para objeto, promovendo situações de ajuda pela caridade, celebrando e convivendo com as pessoas, dando o verdadeiro sentido ao Natal, como nascimento de Jesus Cristo em nossas vidas”, explica a psicóloga.

Educação financeira 

O economista e prof. do Instituto Federal de Goiás (IFG), Adriano Paranaíba, lembra que nos últimos anos a população foi iludida pelo acesso ao crédito e consumo facilitado, com as passagens aéreas e os veículos parcelados a perder de vista, só para dar dois exemplos. “O governo dizia que a crise não chegaria e os economistas, o contrário; e a fatura chegou. Estamos mergulhados na crise, mas o lado positivo é que as pessoas aprenderam que gastar por gastar leva às dívidas e à crise”.

Adriano alerta que o cenário para 2016 não é bom e sugere como as pessoas devem passar esse fim de ano. “Podemos fazer uma festa bonita sem comprometer o orçamento. Como? Com simplicidade. Não é o momento de gastar, pois o ano que vem não sabemos nem quem estará empregado”, aconselha. O ideal, conforme Paranaíba, é sentar em família e programar todo o ano de 2016 na ponta do lápis. “Aproveitando o Natal, que proporciona as reuniões em família, precisamos aprender educação financeira na prática, inclusive com a participação dos filhos para que eles também saibam os limites do orçamento. Ganhos extraordinários, como o 13º salário, devem ser gastos prioritariamente com os gastos extraordinários: matrícula e material escolar dos filhos, IPTU, IPVA”. O salário fica para as contas ordinárias. Adriano explica que fazer isso ajuda a manter o equilíbrio financeiro. A prioridade neste fim de ano, de acordo com ele, é quitar as dívidas e só depois pensar em presentes.

Reencontrar o sentido do Natal

Eis o passo mais importante que a sociedade precisar dar, conforme o padre José Luiz da Silva, formador do Seminário propedêutico Santa Cruz. “Natal significa esperança para nós cristãos e a sociedade e todos são convidados a renascer de novo”. O padre comenta que na época em que vivemos o sentido da vida se perde facilmente, e as pessoas vivem o período natalino pelo aspecto social porque não entendem o mistério. “O mercado oferece muitas propostas e as pessoas não conseguem fazer uma escolha. O maior presente do Natal é perceber Jesus no presépio despojado e buscar imitá-lo e entender que o consumismo frenético promete, mas não traz a felicidade, que só é possível por meio do Cristo da manjedoura. Só assim conseguimos atenuar o consumismo”.

Publicado originalmente no Jornal Encontro Semanal, da Arquidiocese de Goiânia, edição 83.




No dia 7 de novembro, a Paróquia Santo Antônio de Pádua, do Setor Negrão de Lima, em Goiânia, promoveu um Diálogo Ecumênico sobre a Carta Encíclica Laudato Si’, do papa Francisco, que reuniu estudiosos, professores, representantes do poder público e de outras denominações religiosas, advogados e a sociedade civil, para debater o roteiro do documento, lançado em 18 de junho deste ano. O evento também está em sintonia com a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 (CFE-2016), cujo tema é “Casa comum, nossa responsabilidade”.

Conforme explicou o idealizador do diálogo, padre Alaor Rodrigues, “teve o objetivo de conscientizar, à luz da fé, da Palavra de Deus e da teologia sobre a nossa responsabilidade no cuidado com a casa comum e toda a vida que ela abriga”. De fato o evento foi um “pontapé inicial” que atendeu ao pedido do papa para que a conscientização ecológica parta das comunidades, ou seja, do local para o global.

O reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), prof. Wolmir Amado, apresentou os elementos gerais da Carta Encíclica, como fez na Reunião Mensal de Pastoral do dia 10 de outubro, no Centro Pastoral Dom Fernando (ed. 74). “Esta encíclica é um documento de linha social da Igreja, que carrega a marca da espiritualidade franciscana, direcionada a todos os habitantes do planeta, inclusive os ateus, e é a primeira na história da Igreja com enfoque ecológico e visão integrada sobre questões sociais e ambientais”, enfatizou aos presentes na Paróquia Santo Antônio.

Wolmir ainda destacou que o mundo está à beira de um colapso ambiental que precisa ser revertido e apontou o que impede a humanidade de desenvolver ações eficazes para esse fim. “O problema é que ninguém quer abdicar dos padrões de consumo; a juventude, por exemplo, é sensível à causa, mas é a parcela da população mais presa à cultura do consumo”. O capitalismo também, segundo ele, é outro desafio. “Nenhum governo quer assumir compromissos porque não quer renunciar ao seu modelo econômico, mas o papa já disse que não tem como tratar da questão ambiental sem tocar na economia”. A partir da teologia da criação, o reitor reafirmou o papel do homem no mundo. “Deus nos colocou aqui para sermos guardiões da terra e não dominadores; quando rompemos com a natureza, também rompemos com Deus e por isso precisamos partir para a conversão ecológica que passa pela educação ambiental”.

Salvar o Rio Meia Ponte

Após a apresentação do prof. Wolmir Amado, cada debatedor fez suas colocações em três minutos. Um dos destaques que teve ampla adesão dos presentes foi a proposta de criação de um grupo de trabalho com o objetivo de desenvolver ações concretas para salvar o Rio Meia Ponte, que fica nas imediações do Setor Negrão de Lima, e sofre com a poluição desenfreada, bem como lançar mão de atitudes que visam a superação da cultura do descarte reaproveitando os mais diversos materiais. O evento vai virar um documento em livro e em vídeo e a paróquia, a partir de diversas moções, frutos dos anseios da comunidade, promete pressionar em 2016, durante a vigência da CFE, o poder público e a sociedade pela conscientização ecológica.



Essa foi a mensagem deixada pelo reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), prof. Wolmir Amado, em palestra sobre a Carta Encíclica Laudato Si – sobre o cuidado da casa comum, do papa Francisco, na Reunião Mensal de Pastoral, realizada no dia 10 de outubro, no Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF), em Goiânia.

Logo no início da sua fala, o reitor lembrou que, no contexto arquidiocesano, a Laudato Si está em consonância com a Carta Pastoral do Dom Washington Cruz, “Deus te abençoe, Goiânia!”, em celebração e homenagem ao aniversário de 80 anos da capital e o capítulo 13, do Documento Pós-Sinodal – A Caridade, na vida e na Missão da Igreja particular de Goiânia, que discorre sobre “o cuidado com o futuro da vida no planeta”.

A Encíclica, conforme explanou o prof. Wolmir, está dividida em seis capítulos e organizada no método de trabalho ver, julgar a agir. No primeiro capítulo, o papa convida a olhar a realidade do mundo; no segundo e no terceiro (julgar), reflete sobre a raiz humana da crise ecológica; no quarto apresenta os tipos de ecologia propostos. “O papa escreve aqui sobre as questões ambientais profundamente integradas e nos propõe a ecologia integral que perpassa os âmbitos social, ambiental e econômico”. No quinto, por sua vez, são apresentadas linhas de orientação e ação e o último, o papa “escreve sobre questões de educação e espiritualidade ecológica que nos levam à sensibilidade ambiental”, explicou.

Para o prof. Wolmir, “a situação ambiental do nosso planeta é dramática porque o mundo experimenta uma mudança de ritmo civilizatório acelerado para o qual não estávamos preparados”. O reitor ainda frisou que a natureza tem outro ritmo. “Quando tiramos recursos da natureza, ela não se recompõe imediatamente, por isso, precisamos urgentemente nos dar conta de que os ritmos naturais são diferentes dos culturais.”

Foto: Caio Cézar


A Crise Econômica pela qual passamos é de conhecimento de todos, afinal a sentimos nos bolso. O dólar a pouco mais de R$ 4, um recorde desde a criação do Plano Real (cotação do dólar comercial no dia 23 de setembro de 2015), eleva o preço de diversos produtos, começando pelo pãozinho francês até os industrializados porque mais do que nunca, para obter lucros, as empresas precisam ganhar mais reais para vender o seu produto; os importados também ficam mais caros, a inflação aumenta e o poder aquisitivo cai. Nesse barco, os pobres são os mais afetados. Se o nível de preços ultrapassar a meta do Governo Federal, poderemos até passar por um racionamento de água e energia.

Junto com a Crise Econômica, o país passa por uma Crise Política. É bem difícil dizer se é a crise econômica que produz a crise política ou se é esta que constrói a crise econômica. O certo é que ela afeta a todos também, uma vez que o Governo e a oposição não conseguem se acertar – chegar a um consenso – em prol dos cidadãos. Um exemplo é a análise pelo Congresso Nacional dos 32 vetos da presidente Dilma Rousseff, novela longe de acabar. Os embates tem tudo a ver com a economia, já que os projetos podem reequilibrar ou descontrolar as contas públicas.

A Crise Moral é outra bastante presente no dia a dia de todos nós. Essa é grave e muito antiga e está relacionada com o extinto de se dar bem, ser esperto, levar vantagem em tudo e cultuar muito mais o ter do que o ser. A preocupação aqui é o material, é ganhar tempo, furar fila porque o meu tempo é mais precioso do que o do próximo. É grave porque não nos damos conta dela. Apontamos apenas o nosso dedo acusador aos políticos, aos “bandidos de colarinho branco”, sem olhar para nós mesmos e as pequenas corrupções que praticamos quase que (senão) diariamente.

Crise de inteligência

Mas, diante das três crises descritas acima, a Crise de Inteligência parece ser o mal maior dos nossos dias e pode afetar ou estar relacionada com todas as outras. Argumentar hoje em dia é tão difícil quanto desenvolver uma fórmula matemática. Estamos cada vez mais despreparados para debater qualquer assunto ou analisar algum tema da atualidade. As redações do Enem que o digam. O filósofo francês Gilles Lipovetsky diz que, atualmente, “mais do que uma crise de valores, vivemos um problema de inteligência”.

A Crise de Inteligência é fruto da precarização da nossa educação; as pessoas se apossam de fórmulas prontas e simplistas e a repetição de certezas incontestes (que não resistiriam a um simples debate). Outros partem para agressão mesmo e a negação do interlocutor e suas ideias. Contribui para a supervalorização da ignorância dos nossos dias, a famosa internet e as redes sociais, ambiente em que as pessoas postam verdades absolutas, se pronunciam com certezas e não estão nem um pouco preocupadas e abertas ao diálogo e debate. Preferem se fechar em um mundo virtual criado paralelamente ao real. Ambos se confundem e transformam a pessoa em um ser cada vez mais sem sentido, menos crítico e mais conformado com a realidade que a engole todos os dias.



Atualmente o mundo conta com mais de 7 bilhões de pessoas que geram 1,3 bilhão de toneladas de lixo, quantidade que deve chegar a 2,2 bilhões de toneladas em 2025, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Ainda conforme os relatórios da ONU, atualmente mais de 1 bilhão de pessoas, o equivalente a 18% da população mundial, não tem acesso a uma quantidade mínima aceitável de água potável. E em 2025 – dois terços da população mundial ou 5,5 bilhões de pessoas, poderão não ter acesso à água limpa.

É com base em estudos científicos como esses, que apontam um cenário catastrófico já em nossos dias, que o papa Francisco lançou no dia 18 de junho, a sua segunda Carta Encíclica, Laudato Si (Louvado sejas – sobre o cuidado da casa comum) “a cada pessoa que habita neste planeta” (nº 3). Segundo o subsecretário-geral da ONU para o Pnuma, Achim Steiner, é “o chamado à ação feito por Francisco face à degradação global do ambiente e as mudanças climáticas”.

Estudiosos já declararam ser superficial classificar a carta apenas como encíclica verde porque a visão do papa é teológica e metafísica, ou seja, fundamentada na fé e na razão a partir da investigação das realidades que transcendem a experiência sensível.

Para começo de conversa, é indispensável destacar que Laudato Si, mi Signori – Louvado Sejas, meu Senhor – era o cântico de São Francisco de Assis em que “recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”. Assim cantava o santo. “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras” (nº1).

Visão científica

Para o doutor em Ecologia e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Rafael Dias Loyola, quatro pontos fundamentam a encíclica e tornam o documento relevante. “O papa Francisco apresenta um problema; explica no texto que ele é global; convoca as pessoas a fazerem algo a partir de linhas de ação e deixa claro que o problema perpassa o ambiental e atinge também o social e econômico”. Segundo o professor, a comunidade científica mundial recebeu muito bem o documento porque o texto ratifica o que eles vêm dizendo há muito tempo: “estamos diante da maior emissão de gases de efeito estufa da história, causado pelo homem; diante de uma crise hídrica sem precedentes, devido principalmente a uma gestão irresponsável e o papa, como líder religioso e uma força política que os cientistas não têm, faz ouvir no mundo inteiro esse problema que é de todos nós”.



Igreja pode fazer mais

Mas a publicação de Laudato Si e o impacto que causou um papa ao falar sobre meio ambiente, conforme o professor Rafael, é apenas um primeiro passo. “O documento tem um peso político muito grande no mundo e acaba atraindo as pessoas na sociedade e na Igreja, mas poderá fazer a diferença se ele for amplamente divulgado, discutido e debatido; se cada padre em sua paróquia falar a respeito com os fiéis, aí sim, haverá uma educação ambiental mínima”. O professor considera também que a encíclica é um alerta para as pessoas se conscientizarem de que elas são parte do problema, que contribuem para o mundo estar piorando e isso, associado à fé, faz uma diferença muito grande.

A chave do documento, conclui o especialista, é o papa ter fundamentado ao longo do texto que o problema é também social e que os pobres sofrerão mais com a degradação do meio ambiente. “O papa chama a atenção dos governos para assumirem uma postura nova principalmente em relação aos mais pobres que não têm condições de lidar com escassez de água, aumento da temperatura e falta de alimento nas mesas”.

O professor da Escola da Fé e mestre em Ciências da Religião, Onofre Guilherme, diz que Laudato Si é um convite do papa à mudança de mentalidade, que só pode ser alterada verdadeiramente a partir de uma espiritualidade de cuidado, do zelo para com a criação e para com os homens e mulheres que habitam o planeta. “Francisco faz um pedido no sentido da afirmação da dignidade profunda da pessoa humana, perdida no horizonte pobre do mundo do consumo exacerbado”.
Onofre ressalta ainda que cabe aos cristãos, de modo especial, o cultivo de uma espiritualidade autenticamente ecológica que, “associada à educação ajuda, assim, na superação da tentação de um espírito consumista que provoca violência e destruição na medida em que poucos são os seres humanos que possuem pleno acesso aos bens de consumo”.

São Francisco de Assis

O bispo auxiliar de Goiânia, Dom Levi Bonatto, entende que o documento só terá efeito se ele for amplamente divulgado. Por isso, faz um apelo à Igreja. “As palavras do papa só irão ecoar se o documento estiver nas mãos das pessoas e isso só acontecerá se cada paróquia e comunidade, por meio dos seus padres, fizerem isso e houver uma divulgação nos meios de comunicação sobre a importância da nova encíclica”. Dom Levi vê de forma positiva o impacto que causou o lançamento da encíclica no mundo inteiro. Ele diz que a Igreja precisa aproveitar esse momento para levar a todos a mensagem de Francisco sobre essa problemática global.

Sobre a centralidade de São Francisco na encíclica, Dom Levi explica que o santo foi “o transformador de uma Igreja que estava voltada para si mesma, tinha muitos bens, e ele achou que era necessário o desprendimento, por isso, fez a reforma. Hoje o papa Francisco quer mostrar que para viver o que está escrito no documento é preciso uma transformação e mudança a partir das pessoas, pois não é possível continuarmos apegados aos bens materiais enquanto o mundo sofre as consequências”.

Estudo do documento

As paróquias e vicariatos são convidadas a se envolverem concretamente na multiplicação do conhecimento da Carta Encíclica Laudato Si, trazendo para o dia a dia da comunidade o denso e profundo conteúdo nela apresentado. Esse é o caminho que a Igreja de Goiânia irá trilhar a partir de agora, segundo Dom Levi. O professor Onofre Guilherme se coloca à disposição para esse serviço. O contato dele é onofre.goiania@gmail.com. A encíclica pode ser encontrada em todas as livrarias católicas.

Você sabia? A Carta Encíclica é uma circular enviada pelo papa a todos os bispos e por meio deles aos padres e fiéis, sobre um determinado assunto que quer tratar nos campos da fé, costumes, culto, doutrina social. Pode-se estender também a todos os homens de boa vontade, como é o caso da Laudato Si. Acredita-se que a primeira encíclica foi escrita pelo papa São Clemente (89-98). O termo “epistola encyclica” foi introduzido pelo papa Bento XIV (1740-1758).

Publicado originalmente no Jornal Encontro Semanal, da Arquidiocese de Goiânia
Reportagem: Fúlvio Costa
Fotos: André Costa
Montagem: Caio Cézar
Infográfico: Ana Paula Mota
Revisão: Jane Greco 



"É sábio trabalhar a partir do mais simples até chegar ao mais difícil"

1. Não mergulhe de cabeça no mar de conhecimento, mas tente chegar a ele através de córregos menores. É sábio trabalhar a partir do mais simples até chegar ao mais difícil. Este é o meu primeiro conselho e você faria bem em segui-lo.

2. Seja lento para falar…

3. Dê grande importância a uma boa consciência.

4. Nunca negligencie os momentos de oração.

5. Mostre-se amável para com todos.

6. Nunca meta o nariz nos assuntos dos outros.

7. Não seja excessivamente íntimo dos outros, porque a familiaridade excessiva gera desprezo e fornece pretextos para negligenciar o trabalho sério.

8. Não perca tempo em conversas fúteis.

9. Tente seguir as pegadas dos homens honestos e santos.

10. Não repare tanto em quem fala, mas acumule na mente o que ele diz de útil.

11. Certifique-se de entender bem o que você lê e escuta.

12. Esclareça os pontos em dúvida.

13. Dê o seu melhor para guardar tudo o que puder na pequena biblioteca da sua mente.

14. Não se preocupe com as coisas que estão fora da sua competência. Se você seguir os meus conselhos, vai atingir a meta desejada.

São Tomás de Aquino, 1270.




O mal de proporções gigantescas que se abate sobre os refugiados é consequência da política desastrosa dos nossos países. Quem irá resolver?


Vergonha, vergonha, vergonha.


“Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos”.

As palavras acima correspondem ao número 2 da Carta Encíclica do papa Francisco, Laudato Si (sobre o cuidado da casa comum) lançada em todo o mundo no dia 18 de junho. Tem tudo a ver com as crises existenciais por que passa a humanidade. Que crises são essas? Não conseguimos mais medir as consequências do mal ao próximo; da violência contra a humanidade e a natureza e nem sequer conhecer o nosso vizinho. Caminhamos para um caminho sem volta, nos canibalizamos e voltamos a ser bárbaros. Os meios de comunicação em nossas mãos são armas potentes, prontas a destruir a imagem de quem quer que seja – não importa se o dono da imagem está morto ou doente. Onde está o sentido da vida em nossos dias?

Como bem escreve o papa em sua encíclica, “a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços” (nº 1), mas onde está esse cuidado? Se a casa é de todos, por que uma criança é obrigada a deixar o seu país de origem em busca de sobrevivência em um continente do outro lado do mundo e na viagem perde a vida? Se a casa é comum, por que todos nós não convivemos como irmãos? Já não há partilha, a terra não é mais nossa mãe, nem nossa irmã. Os fatos nos fazem questionar. As pessoas engolem-se todos os dias em busca de lucros, uma posição de destaque na sociedade e países atacam-se com armas. Armam-se também contra a sua própria população com a munição dos impostos que destrói a nossa capacidade de viver livres nos braços da mãe terra.



Imagens da (des) humanidade

As duas imagens acima estão correndo os jornais e redes sociais em todo o mundo. A obra esculpida na areia da praia de Puri, na Índia, dispensa comentários. O artista indiano Sudarsan Pattnaik retrata o pequeno Aylan Kurdi que morreu afogado quando ele e a família fugiam das atrocidades causadas pelo grupo que se autointitula Estado Islâmico, na Síria. A família tentavam atravessar de barco da Turquia para a Grécia nesta quarta-feira (2). O destino final seria o Canadá onde moram parentes.

Na segunda imagem, uma criança disputa espaço com adultos, durante distribuição de alimentos, em frente à estação ferroviária Keleti, em Budapeste, na Hungria. A foto é de Frank Augstein. Temos tanto, mas nossa incapacidade de viver como irmãos a partilha do amor nos afasta do propósito final imaginado por Deus. Precisamos urgentemente reconhecer que todos juntos somos responsáveis pelos danos que vem maltratando o planeta, desfigurando e destruindo a nossa casa comum que um dia, se assim continuar, não será mais habitável.



Acabei de assistir à temporada piloto de Demolidor (Daredevil) na Netflix, primeira parceria deste serviço de transmissão de conteúdo sob demanda e a Marvel. Antes de tudo é preciso destacar que os tempos são outros, a internet se mostra cada vez mais indispensável ao entretenimento e a sua força cresce com o investimento e o trabalho sério de empresas como a Netflix. O exemplo está na série sobre a qual eu escrevo. Bom, mas esse assunto fica para outro artigo.

Há muito a se falar sobre os 13 primeiros capítulos da série. Eu, porém, vou me ater apenas sobre o lado humano, religioso e racional, de Mattew Murdock (Charlie Cox). Apesar de o slogan de Demolidor ser “O homem sem medo”, o católico Matt expressa suas fragilidades e as confessa ao padre Lantom (Peter McRobbie) ao longo dos episódios.

O advogado, que cresceu cego após salvar ainda criança um homem de um acidente automobilístico e ter a visão perdida devido a um produto químico cair em seus olhos, é temente a Deus a ponto de em todos os capítulos conversar com o padre. Nos encontros e confissões, diálogos filosóficos e teológicos são travados. O melhor deles no capítulo 9 em que Matt, perturbado, questiona o sacerdote sobre a existência do diabo. O padre torna uma resposta complexa, simples e entendível.

Confira: 

Padre Lantom: Como um conceito?

Matt: Não. Acredita que ele exista? Neste mundo, entre nós.

Padre Lantom: Quer a resposta curta ou a longa?

Matt: Apenas a verdade.

Padre Lantom: Quando eu estava no seminário, eu era mais estudioso que devoto, mais cético que a maioria dos meus colegas. Eu tinha essa noção, eu estava disposto a falar a respeito, em detalhes, com quem eu pudesse encurralar, que o diabo era inconsequente. Uma figura menor no esquema geral das coisas.

Matt: Pouco católico.

Padre Lantom: É. Em minha defesa, nas escrituras, a palavra hebraica “Satanás” significa “adversário”. É aplicada a qualquer antagonista. Anjos e humanos, serpentes e reis. Teólogos medievais reinterpretaram essas passagens sendo sobre um único inimigo monstruoso. E, em meu zelo da juventude, eu tinha certeza do porquê. Propaganda. Criada para levar o povo à Igreja.

Matt: Não acredita que exista.

Padre Lantom: Terminei de falar?

Matt: Desculpe.

Padre Lantom: Anos depois, eu estava em Ruanda, ajudando igrejas locais providenciando santuário e amparo a refugiados. Eu fiquei amigo do ancião da aldeia, Gahiji. Ele e sua família tinham o respeito de todos, hutu e tutsi. Ele ajudava a todos através de penúria, doença. A milícia gostava de forçar os hutus a matar os vizinhos com facões. Mas ninguém erguia a mão contra Gahiji. Eles diziam: “como podemos matar um homem santo?”. Então o comandante da milícia enviou soldados para cortar a sua cabeça diante de toda a aldeia. Gahiji nem tentou lutar. Apenas pediu uma chance de se despedir da família. Quando ele terminou, nem os soldados queriam matá-lo. Então pediram ao comandante se podiam atirar nele. Seria uma morte rápida. O comandante quis conhecer esse homem, que ganhou o respeito de tantos. Ele foi até Gahiji, falou com ele em sua cabana por muitas horas, e então o arrastou para fora na frente de todos e o destroçou junto com toda a sua família. Naquele homem que tirou a vida de Gahiji eu vi o diabo. Então, sim, Mattew, eu acredito que ele ande entre nós, tomando muitas formas.

Matt: E se você pudesse impedi-lo de machucar os outros novamente?

Padre Lantom: Impedi-lo como?

Mattew faz a pergunta por que está diante de um homem tão forte e poderoso que domina tudo e todos. Por isso ele compara o seu inimigo ao "diabo" em sua batalha contra o crime no bairro de Hell’s Kichen, em Nova York, mas teme pela perda da salvação de sua alma caso aja com as próprias mãos contra o mal. A lei, nessa altura, não chega a ser indispensável, mas precisa de uma "maozona" justiceira para obter êxito. Com a pergunta “e se você pudesse impedi-lo de machucar os outros novamente?” Matt gostaria de ouvir do reverendo Lantom que combater a violência e as injustiças com mais violência seria uma opção e um meio cristão para se alcançar o bem, mas ouve apenas uma resposta com outra pergunta: “impedi-lo como?”.

Em Demolidor, primeira temporada, religião e racional se confundem e o campo das ideias está presente na maioria dos diálogos, fato que torna a série mais realista. De Matt pode-se tirar a determinação para combater o mal; a coragem; a fé. Do ponto de vista cristão, ele faz a sua escolha e decide arriscar a salvação da sua alma pela vida do próximo - a população de Hell’s Kichen. Não é isso que Deus espera de nós? Doar a vida e até a alma pelos irmãos? Matt não é um salvador do mundo como costumamos ver em praticamente todos os super-heróis, mas um homem com capacidades sobrenaturais e audição aguçada pela falta de visão que ajuda os vizinhos, as pessoas que viu crescer e envelhecer. Partir para a violência, decisão anticristã ou não, predominou o livre arbítrio.

Atuações 

Por fim, não poderia deixar de citar a excelente atuação do elenco. Destaque para o britânico Charlie Cox como Demolidor com sua seriedade e serenidade dá uma pegada curiosa e cheia de suspense ao protagonista e o sócio advogado Foggy Nelson (Elden Henson) que dá o tom cômico à série sem exageros e esforço e o inimigo Wilson Fisk (Vicente D’Onofrio) que, como o personagem dos quadrinhos, dá medo só de olhar.


Qual a importância das assessorias de comunicação no vasto mundo das organizações sociais? E nos dias de hoje em que todos são produtores de conteúdo, graças às novas tecnologias? Pontos importantes a serem refletidos. O papel fundamental das organizações do terceiro setor (sindicatos, movimentos sociais, associações, pastorais) é dialogar com a sociedade e a linha tênue que separa e/ou une esses dois campos está na comunicação mediada pelos mass media. A partir do apresentado é fácil constatar que as assessorias de comunicação têm muito trabalho a desenvolver.

O Movimento Sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), por exemplo, entenderam ainda na década de 1980 que esse diálogo com a sociedade a partir da presença na mídia, por meio de artigos, releases, coletivas de imprensa, e tantos outros produtos das assessorias de comunicação, poderiam fazer a diferença, e fez.

O MST, hoje, é uma organização conhecida mundialmente. O mesmo pode-se dizer da CPT que anualmente tem seus relatórios sobre pequenas propriedades rurais e grandes latifúndios divulgados em toda a imprensa – graças a um trabalho planejado para os públicos que se deseja atingir.

Por tudo isso é que se pode afirmar que os assessores de comunicação e consequentemente o seu trabalho são cruciais para potencializar os objetivos pretendidos no seio da sociedade. Se o papel das organizações sociais é entendido a partir do serviço das assessorias, tem-se aí um passo dado para a instituição apresentar-se de maneira eficiente à opinião pública.

Com relação às novas tecnologias, os processos de comunicação têm se renovado e se reinventado, de modo que todas as pessoas munidas de dispositivos móveis participam desse fazer. Esse ambiente mediado a partir de tablets, notebooks, smartphones, interligados pela internet, estreitam dia a dia as relações e se configuram como desafiantes aos profissionais da comunicação.

As assessorias de comunicação, nesse ambiente novo, têm papel importante e indispensável porque já não há emissões e receptores apenas, em espaços definidos como há poucos anos. Hoje, todos são produtores de conteúdo e as assessorias de comunicação, caso não planejem os fluxos de comunicação para os diversos públicos, internos e externos das empresas, estão fadados a não servirem para o papel a que são designadas: evidenciar as instituições e empresas em que atuam. Evidenciar lê-se também participar das estratégias administrativas da organização de maneia que a mensagem atinja os objetivos propostos. Nesse sentido, as novas tecnologias são aliadas.

Por outro lado, se o agir estratégico não for planejado, as assessorias de comunicação correm o sério risco de serem engolidas pelos diversos atores sociais em posse do poder de comunicar via redes sociais. Mais do que nunca, as assessorias de comunicação são pressionadas a mostrar a que vieram, para que sejam avaliadas como setores indispensáveis às instituições e empresas. Caso contrário, serão apenas meros espaços que apenas colaboram para inchar o financeiro. Em época de crise em todo o mudo, novas tecnologias e assessorias de comunicação podem ser decisivos para que os assessorados sejam vistos e reconhecidos pela opinião pública. Como? Transformando as novas tecnologias em ferramentas que dialogam com os diversos públicos. Estar fora desse ambiente é abrir mão de produtos comunicacionais que podem fazer a diferença para a sobrevivência das instituições, conforme alerta Jorge Duarte (2010).

Texto escrito para a prova de seleção da Pós-Graduação em Assessoria de Comunicação Empresarial e Institucional da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pontuação alcançada: 8,5. Prova valia 9,5.



O Voo (2012) protagonizado por Denzel Washington (Whip Whitaker), e dirigido por Robert Zemeckis, o mesmo de Os Fantasmas de Scrooge, de 2009, é um longa, longo mesmo, de 2h18 minutos que mescla muito bem um roteiro de ação, suspense e drama. Os primeiros 40 minutos são uma viagem de tirar o fôlego com cenas que levam quem assiste ao interior do voo 227 da South Jet Air, dos Estados Unidos.

A história gira em torno de Whip, piloto de voos comerciais que enfrenta problemas com o uso de drogas e bebida alcoólica, além de estar separado da família. No voo SouthJet 227 de Orlando para Atlanta, nos EUA, tudo isso irá contribuir para a mal sucedida viagem.

O Voo é um filme que faz pensar sobre os limites do homem, sobre ética profissional, compromisso. Um conjunto de pontos negativos levaram ao ocorrido, mas até que ponto o piloto é o vilão ou herói? Ultimamente temos visto inúmeros acidentes aéreos com causas pouco ou nada divulgadas. Milhões de vidas são colocadas nas mãos de companhias aéreas e seus pilotos diariamente. Elas estão sendo valorizadas como merecem? As perguntas são inúmeras.

O Voo 227 termina com uma história que poderia ter continuidade: além da tragédia e seu desdobramento no tribunal, a redenção de um homem que reconhece as suas falhas e decide dar um basta nas atitudes que o levam a pôr em risco tantas vidas. A atuação de Denzel, principalmente nos momentos de pânico no voo e de êxtase com as drogas são pontos a serem considerados e elogiados. Recomendo o filme, desde que seja assistido num dia tranquilo sem ninguém para perturbar. Pois, afinal, não é todos os dias que gastamos mais de 2h com um único filme.

Seguindo o exemplo de vários países na Europa, o ensino da Ideologia de Gênero nas escolas brasileiras, para crianças a partir dos três anos de idade, está prestes a mudar como nunca antes, o rumo da educação.  Tema amplo, complexo e de relevante interesse social, mas de pouco ou nenhum conhecimento de grande parcela da sociedade.

Ideologia de Gênero: afirma que homem e mulher não diferem pelo sexo, mas pelo gênero. A teoria diz que este não possui base biológica, mas é construído socialmente através da família, da educação e da sociedade. Segundo os defensores da ideologia, gênero não deveria ser uma imposição, mas livremente escolhido e facilmente modificado pelo próprio ser humano. Em outras palavras, quer dizer que as pessoas não nascem homens ou mulheres, mas são condicionadas a identificarem-se como homens, como mulheres, ou como um ou mais dos diversos gêneros que podem ser criados pelo indivíduo ou pela sociedade.

O tema foi introduzido na década de 1950 nas clínicas universitárias dos Estados Unidos em que pessoas, principalmente homens, eram submetidas a cirurgias experimentais de mudança de sexo. O projeto foi levado adiante por três pesquisadores: Dr. Alfred Kinsey, Dr. Harry Benjamin e o psicólogo John Money, pioneiros da Ideologia de Gênero, com a premissa de que as pessoas poderiam assumir o sexo oposto bastando para isso educar as crianças a assumirem a nova identidade após os procedimentos. A história provou que os pesquisadores estavam errados e inúmeros suicídios aconteceram em decorrência desse projeto.

A Ideologia de Gênero deveria ter sido acrescentada no Plano Nacional de Educação (PNE) através da Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, mas entidades da sociedade civil organizada, incluindo aí a Igreja Católica, se manifestaram contra, por meio de notas oficiais, ligações, e-mails e presença em sessões do Congresso Nacional. A pressão fez com que o tema fosse removido do texto do PNE. Com o fracasso, promotores da Ideologia de Gênero têm buscado alternativas. Agora, tenta-se inserir o tema nos Planos Estaduais e Municipais de Educação com diretrizes e metas a serem alcançadas até 2024; os referidos planos devem ser aprovados até o próximo dia 24 de junho.

A Igreja

O papa Francisco afirmou, recentemente, que a Ideologia de Gênero “é contrária ao plano de Deus; um erro da mente humana que provoca muita confusão e ataca a família”. Anos atrás, o papa emérito Bento XVI havia dito que a tema “contesta o fato de o homem possuir uma natureza corpórea pré-constituída (...), nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem” (...). O Documento de Aparecida (DAp) em seu número 40, explica. “Entre os pressupostos que enfraquecem e menosprezam a vida familiar, encontramos a ideologia de gênero, segundo a qual cada um pode escolher sua orientação sexual, sem levar em consideração as diferenças dadas pela natureza humana. Isso tem provocado modificações legais que ferem gravemente a dignidade do matrimônio, o respeito ao direito à vida e a identidade da família”.

Os bispos do Regional Norte 2 (Tocantins) da CNBB em nota explicativa sobre os planos de educação, destacaram que “o ponto que mais nos preocupa é a estratégia de número 12.6, que reza o seguinte: garantir condições institucionais para o debate e a promoção da diversidade étnico-racial, de gênero, de diversidade sexual e religiosa, por meio de políticas pedagógicas e de gestão específicas para esse fim”.

Dom Orani João Tempesta, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, foi incisivo a respeito da implantação dessa ideologia no Brasil. “Ela oferece às pessoas a ilusão de que serão plenamente livres em matéria sexual, contudo, uma vez que essas pessoas tenham tomado a mentira por verdade, são aqueles que detêm o poder real que escolherão, a seu beneplácito, o modo como o povo deverá – padronizadamente – exercer a sua sexualidade sob o olhar forte do Estado que tutelaria para que cada um fizesse o que bem entendesse”.

Um vídeo de 2 minutos publicado pelo site do Observatório Interamericano de Biopolítica, organização de cidadãos livres, conscientes e ativos dedicada à defesa da dignidade e dos direitos da pessoa humana, explica de maneira clara e objetiva o que é a Ideologia de Gênero. “A desigualdade entre meninos e meninas se converterá mais tarde em desigualdade entre homens e mulheres. E como resolver esse problema? Eliminando desde cedo nas escolas, na família e na sociedade a diferença de gênero das crianças, ensinando a elas que não são diferentes, mas iguais. Como muitos são contrários, a ideia é trabalhar o assunto nas escolas, longe das famílias. Com o desaparecimento das diferenças, o problema estaria resolvido, de maneira que ninguém saberia mais se é homem ou mulher. O questionamento é: o problema da igualdade foi solucionado? Pergunta irônica. Não, porque foi criado outro problema: não teríamos mais identidade. O papel das escolas é formar cidadãos críticos através da cultura, que saibam ler, escrever, calcular. Meninos devem ser meninos, e meninas devem ser meninas”.

Artigo publicado originalmente no Jornal Encontro Semanal, da Arquidiocese de Goiânia



Na primeira edição (50) sobre o Sacramento da Confirmação ou Crisma ficou claro que as comunidades e paróquias precisam se esforçar para fazer da catequese um aprendizado constante na alegria do Evangelho em que somos convidados a renovar o nosso “encontro pessoal com Jesus Cristo”, conforme a Exortação apostólica Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho) do papa Francisco.

A vivência do Evangelho na catequese, ao contrário da doutrinação, possibilita também aos crismandos o entendimento do rito deste Sacramento que, como o Batismo (edição 46), é rico em simbologia e significado.

Ao Encontro Semanal, o arcebispo emérito da Arquidiocese de Goiânia, Dom Antonio Ribeiro, explicou os diversos aspectos que permeiam a liturgia da Crisma que, segundo ele, “devem refletir na vida do cristão”. Dois momentos são os mais importantes no rito da Crisma: a imposição das mãos do bispo e a marca do sinal da cruz, que são a forma;  e a unção com o óleo de oliveira, que é a matéria. “Como na celebração da Santa Missa, a imposição das mãos que está presente em toda a liturgia da Igreja tem o sentido de invocar a efusão do Divino Espírito Santo”, explica. Após esse gesto, alguns bispos ainda dão um tapinha leve no rosto dos crismados, indicando que eles deverão suportar as adversidades da vida e defender a fé em nome de Jesus.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC), é no momento da imposição das mãos que o ministro pede ao Senhor os dons do Espírito Santo aos crismandos: Sabedoria, Inteligência, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus. Já a unção com o óleo perfumado, consagrado pelo bispo na Quinta-feira Santa, diz Dom Antonio, “significa a eleição, escolha da pessoa, por Deus, para participar da vida cristã”; por isso, a unção é feita na fronte; em outras palavras, “a partir desse momento o cristão deve exalar o perfume espiritual das virtudes”. O rito confere ao candidato o selo da responsabilidade que deverá assumir perante a Igreja e a sociedade.

Bispo, ministro da Crisma

O ministro ordinário do Sacramento da Confirmação é o bispo que exprime a unidade apostólica da Igreja. Ele também pode delegar um sacerdote para realizar o rito, mas só quando houver necessidade. Como foi explicado na edição 51, Batismo e Crisma são os mesmos Sacramentos.

Enquanto o primeiro (infantil) confere a inserção da pessoa na comunidade cristã, o segundo (adulto) confia-lhe a responsabilidade de assumir a missão da Igreja. “O bispo ministra este Sacramento para demonstrar que aquele cristão tem um dever não só na Igreja universal, mas na Igreja particular onde o bispo é o pastor; por isso, a administração desse Sacramento tem como efeito unir aqueles que o receberam mais intimamente à comunidade”, completa Dom Antonio.

Renovação das promessas batismais e profissão de fé

No Batismo de crianças, pais e padrinhos renovam as promessas batismais, renunciam às forças do mal e aceitam Jesus como único salvador, no sentido de ajudar a criança a seguir Jesus Cristo (edição 46). Na Crisma, é o próprio crismando quem renova as promessas, ou seja, o compromisso assumido com a Igreja, e professa a sua fé em um único Deus todo-poderoso para poder, então, assumir a função de discípulo e de testemunha de Cristo.

Para encerrar o rito, o bispo e os crismados se cumprimentam com o ósculo da paz. Sobre esse momento, Dom Antonio relembra. “Eu gostava de desejar a paz e pedir que o crismado também me desejasse no sentido de estarmos comprometidos, o bispo e todo o povo cristão nesse trabalho de construir um mundo de justiça, de amor e de paz; conforme o cardeal Leo-Jozef Suenens, da Bélgica, ‘a paz começa em cada coração e se estende à família e daí à comunidade e ao mundo’; esse gesto é que nos lembra que nós cristãos somos construtores da paz”.

Crisma, o Sacramento de Pentecostes

O Sacramento da Confirmação tem uma relação profunda com a Festa de Pentecostes, que será celebrada no próximo dia 24 de maio. No episódio, o Espírito Santo desce em formato de línguas de fogo sobre Nossa Senhora e os apóstolos reunidos no cenáculo (At 2, 1-13). Conforme disse o padre Nilson Maróstica, na edição 50, o crismando que vai receber a Confirmação está apaixonado por Cristo, pronto para a missão. Da mesma forma que os apóstolos ficaram “cheios do Espírito Santo”, os crismandos também recebem na unção com óleo santo e a imposição das mãos do bispo, símbolo apostólico, os sete dons para pregar a palavra de Deus a toda criatura.

Publicado originalmente no Jornal Encontro Semanal, da Arquidiocese de Goiânia 


Nos dias de hoje está na moda falar de liderança. Palavra-chave para a saúde de uma empresa seja de qual ramo de atividade ela for oriunda, a liderança pode fazer a diferença e é fator indispensável para a motivação ou não dos colaboradores. Para adquirir resultados positivos nas relações pessoais, bem como no desenvolvimento das mais diversas atividades, está ficando no esquecimento a figura do chefe cuja forma de influência sobre os subordinados é feita pela coação, força, poder. “Faça isso ou eu o despedirei; faça isso, senão...”.

O Monge e o Executivo – Uma história sobre a essência da liderança (The Servant) de autoria do norte americano James C. Hunter, lançado no Brasil em 2004, pela Editora Sextante, com 128 páginas e dividido em sete capítulos, é leitura obrigatória para estudantes e executivos da área de administração de empresas, fundamental para quem lida todos os dias com pessoas.

Logo nas primeiras páginas, o autor explica o significado de liderança, poder e autoridade, caminho que conduz toda a história que se passa em um mosteiro da Ordem de São Bento. Um grupo de seis pessoas, de diversas profissões, passa uma semana no lugar aprendendo como se tornarem líderes servidores com um famoso ex-executivo de uma das maiores empresas dos Estados Unidos.

A história, porém, gira em torno de um gerente-geral de uma importante indústria de vidro plano com mais de 500 funcionários e mais de 100 milhões de dólares em vendas anuais. Ele tinha tudo para estar feliz, mas a família estava se desestruturando; no trabalho, enfrentava um desgaste com funcionários e sua liderança era contestada pelo seu chefe. O retiro no mosteiro foi sugerido pelo pastor da igreja que pouco frequentava, com o apoio total da esposa Rachel. Naquele período, ele se afastaria do trabalho para tentar por a vida em ordem.

Ler o Monge e o Executivo é mergulhar em uma história cheia de ensinamentos espirituais. As reflexões, também filosóficas, testam a forma como tratamos as pessoas e como fazemos a manutenção dos nossos relacionamentos. Valorizar as pessoas ou, em outras palavras, tratá-las exatamente como você gostaria que elas o tratassem é a palavra de ordem na obra. A recompensa desse "mandamento" vem em formato de trabalho de qualidade.

Uma coisa é certa na leitura desse best-seller da administração moderna: o leitor encerra suas páginas com a sensação de pode ser mais humano; se estudar cada capítulo, adquire uma capacidade de construir relacionamentos saudáveis e satisfazer as necessidades dos liderados com foco no cliente. Eu recomendo: você não irá querer desgrudar dessa bela história sobre a essência do compromisso com o outro. Afinal, como diz o próprio James Hunter, "no fim, a única questão importante será: que diferença as nossas vidas fizeram no mundo?".


Cobrança de taxa de disponibilidade para o médico fazer o trabalho de parto normal tem se tornado comum no país. Os valores variam entre R$ 2 e 3 mil que já deveriam estar embutidos na mensalidade dos convênios. Para as mães e órgãos de defesa do consumidor, a cobrança é abusiva; para o Conselho Federal de Medicina, “é ético”. 

Na contramão do mundo, por uma série de fatores históricos e culturais, o Brasil ocupa a primeira posição em realização de partos cesarianos (85%) enquanto os partos normais são apenas 15%. Na Inglaterra, por exemplo, os partos normais são 92%. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que as cesáreas não ultrapassem os 15% dos procedimentos em um país.

Para reverter o quadro brasileiro, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicaram uma resolução que estabelece normas que estimulam o parto normal e baixe as desnecessárias cesarianas na saúde suplementar. Regras como ampliação da informação pelas consumidoras de planos de saúde sobre a porcentagem de procedimentos normais e cesáreos por estabelecimento, bem como a obrigação de as operadoras fornecerem o cartão da gestante, em que deverá constar o registro de todo o pré-natal, passará a valer a partir de julho.

Os números do Brasil refletem a opção da maioria das mulheres pela cesárea por temer as dores do parto normal, mas também não deixam de ser resultado de empecilhos por parte dos convênios. Não é difícil encontrar gestantes que contratam a saúde suplementar com o objetivo de garantir um pré-natal e um parto mais tranquilo, longe de filas e dificuldades encontradas na saúde pública. O primeiro desafio de ser mãe, para muitas mulheres, começa aí.

O Encontro Semanal entrevistou três gestantes que têm em comum o desejo de serem mães pelo procedimento do parto normal, por meio dos convênios médicos. Elas também têm em comum a situação nada agradável que encontraram pelo caminho ao se depararem com a notícia de que, além de pagar pelo convênio, tinham também de arcar com a chamada “taxa de disponibilidade”, que varia entre R$ 2 e 3 mil, para garantir que o mesmo médico que tenha realizado o pré-natal, seja também o profissional responsável pelo parto.

Diante disso, existe uma discussão longe do fim, porque não há lei que regulamente esse tipo de situação, embora a ANS e o Instituto de Defesa do Consumidor sejam contra a cobrança da taxa. A lei 9656/98 estabelece que a cobertura de despesas referentes a honorários médicos deve ser obrigatoriamente assumida pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde referente ao pré-natal, assistência ao parto e ao puerpério (pós-parto).

Ouvido, o advogado Jhonatan Neiva explicou que a cobrança por parte dos médicos é abusiva. “Com base no Código de Defesa do Consumidor, o usuário do convênio tem o direito básico de ser informado, no ato da contratação, e não em momento posterior, acerca da cobrança de taxas extras”. Ele explica que caso ainda não tenha acontecido o parto, a pessoa que se sente lesada tem como pleitear na justiça a extinção da cobrança abusiva; posteriormente, também tem como recorrer à restituição em dobro dos valores pagos.

Gestantes contratam instituição e não o médico

Para o vice-presidente do Conselho de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) e obstetra Dr. Aldair Novato Silva, as mães que usam convênios médicos precisam entender que elas contratam a operadora e não o médico, por isso, não têm o direito de exigir que o médico do pré-natal faça o parto normal. “Engana-se a paciente que acha que é acompanhada exclusivamente por um médico e equivoca-se o médico que acha que a paciente é sua; precisamos mudar esse pensamento; médico nenhum consegue acompanhar uma gestante em seu pré-natal e ainda fazer o parto; pode acontecer, mas nem sempre é possível estabelecer que esse profissional faça o procedimento”. A saída, segundo o obstetra, é as gestantes entenderem que os médicos plantonistas podem fazer o mesmo trabalho.

Roberta dos Santos, 28 anos, está grávida de sete meses. Usuária de convênio, já passou por três médicos, na fase pré-natal até chegar ao atual profissional que irá realizar o seu parto. “Eu estava cansada e, mesmo sabendo que é abusivo, eu gostei do médico e tive que decidir”. Roberta irá pagar R$ 2 mil pelo procedimento.

A mesma situação é vivida por Raimunda de Araújo, 27 anos, que, no sexto mês de gestação, só conseguiu médicos que façam o parto normal com o pagamento da taxa. Ela pensa em recorrer aos plantonistas. Ana Paula da Silva, 29 anos, pagou pelo mesmo parto normal em janeiro. “Eu e meu esposo concordamos, já que a taxa estava dentro das nossas possibilidades, só para não ter que me submeter a uma cesariana sem real indicação”, justificou. “Diante de toda essa situação, eu torço para que os médicos brasileiros incentivem as mulheres ao parto normal e deixem de marcar hora e dia para o bebê nascer, com exceção dos casos que realmente precisam de uma cesariana para salvar vidas”, disse. Ana Paula e Raimunda afirmaram que os médicos tentam convencê-las de optar pelo parto cesáreo.

Um parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM) diz que “é ético e não configura dupla cobrança o pagamento de honorários pela gestante referente ao acompanhamento presencial do trabalho de parto, desde que o obstetra não esteja de plantão e que este procedimento seja acordado com a gestante na primeira consulta”.

A médica obstetra Dra. Selma Trad, diretora financeira da Unimed Goiânia, informou que a empresa não aceita cobrança de disponibilidade por parte dos médicos. Segundo ela, caso a gestante venha a pagar a taxa, a operadora garante o ressarcimento do valor e um processo será aberto contra o profissional que fez a cobrança. Para fugir dessa situação, ela faz a mesma orientação do Dr. Aldair. “Durante toda a semana temos quatro maternidades que estão sempre de plantão: Ela, Modelo, Hospital da Mulher e Hospital Jardim América; as gestantes em trabalho de parto podem ligar na Unimed e pedir informação de qual está em plantão que será bem atendida por uma equipe competente de profissionais; as gestantes não precisam temer pois não ficarão sem atendimento”, garante

Na rede municipal, as gestantes têm como opções a Maternidade Dona Íris; Maternidade Nascer Cidadão e a Santa Casa de Misericórdia. “O parto normal é uma prioridade para nós; a gestante é avaliada e caso não seja possível, é submetida ao parto cesariano”, disse o coordenador médico da Maternidade Nascer Cidadão, Dr. Jony Rodrigues Barbosa. Na rede municipal, os partos normais representam 40% dos procedimentos.

Atendem pela rede estadual o Hospital Materno Infantil e a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes. Segundo a gerente de saúde da mulher, criança e adolescente, Damiana Aparecia Andrade de Carvalho, o Estado tem trabalhado para ampliar e melhorar os atendimentos para os partos normais. “Temos investido para estimular os partos normais. Os profissionais também têm sido qualificados para estimular as mães a optarem por esse procedimento”, afirmou.

Reportagem publicada originalmente na edição 51 do Jornal Encontro Semanal, da Arquidiocese de Goiânia


 “Nos Sacramentos, encontramos a força para pensar e agir segundo o Evangelho”, escreveu em sua conta no Twitter @Pontifex_pt o papa Francisco no último dia 23 de abril. De fato, é pelos Sacramentos que encontramos a graça e entendemos o mistério da redenção de Cristo. Neste número, abrimos as edições sobre a Confirmação ou Crisma que, conforme o Catecismo da Igreja Católica (CIC), juntamente com o Batismo e Eucaristia, constitui o conjunto dos sacramentos da Iniciação Cristã, cuja unidade deve ser assegurada.

Nas edições sobre o Batismo, foi possível entender que esse Sacramento insere a pessoa, criança ou adulto na comunidade cristã. Pela água as pessoas se tornam membros do Corpo de Cristo, Povo de Deus que é a Igreja (edição 44). Já a Crisma tem o objetivo de confirmar o Batismo, ou seja, imprimir no cristão batizado o caráter de adulto na fé e na vivência em comunidade dos ensinamentos do Evangelho. “A pessoa que recebe a Crisma está em plena posse dos mistérios da fé; ele é um inserido pleno na Igreja”, explica o padre jesuíta Nilson Maróstica, pároco da Paróquia Santa Genoveva, em Goiânia.

Segundo o CIC, o cristão que vai receber a Confirmação deve estar em estado de graça. Nesse sentido, a Igreja tem muito a contribuir. Começando pela catequese; os catequistas, de modo especial, precisam distinguir vivência do Evangelho de doutrinação. “A melhor forma de preparar para a Crisma é tomar posse do modelo adotado pelos primeiros cristãos: colocar o catequisando em contato com Jesus Cristo, que é o principal conteúdo”, diz padre Nilson. Como fazer isso? “Apresentando a vida do Jesus que curou, que cuidou das pessoas, que se preocupou com a humanidade; vamos selecionar textos do Evangelho para ensinar os jovens; ler, reler, confeccionar cartazes e discutir; saborear a Palavra como se fosse uma Leitura Orante da Bíblia; esse é o sentido”, orienta.

A doutrinação, segundo Maróstica, não leva ao “apaixonar-se por Cristo” – objetivo principal da preparação para a Crisma. “A doutrinação cansa, entristece os jovens; ensinar virtudes, quais são os pecados, os 10 Mandamentos da Lei de Deus, de maneira decorada, não é bom; tudo isso se aprende lendo livros, na internet, com a família; a vivência, por outro lado, evangeliza”, aconselha. Nesse processo, de acordo com o padre, pequenos detalhes podem fazer a diferença. “Que tal os jovens passarem por dentro da Igreja, para chegarem às salas de catequese. Esse contato é muito importante”.

A comunidade paroquial, durante essa etapa de preparação, tem um papel muito importante a prestar envolvendo os catequizandos em suas atividades, movimentos, pastorais, liturgia das missas e celebrações. Deixá-los fora da vida pastoral leva ao “desaparecimento” de tantos crismados. “Se for uma comunidade que não se preocupa com os seus catequizandos, não vai crescer nunca, não vai ter vida. É como uma mãe que não cuida dos seus filhos”. Padre Nilson fala da própria experiência na Paróquia São Leopoldo Mandic, no Setor Jaó. “Os jovens crismados desapareceram da Igreja no ano passado e eu perguntei à catequista o que houve; ela disse que ligava para os jovens, mas nada acontecia. Começamos a envolvê-los em um grupo de jovens e até hoje eles estão lá unidos e atuantes. Esse é o objetivo: o envolvimento leva à participação”. Ele diz ainda que a Igreja precisa motivar os jovens apresentando uma evangelização “apaixonada, garantindo que ali eles encontrarão a verdadeira alegria e que o encontro com o Senhor vai ser proveitoso, gostoso e salutar”.

Vanessa Cristina de Oliveira, 36 anos, da Paróquia São Judas Tadeu, se prepara para a Crisma que irá receber no fim deste ano. Sempre foi incentivada pelos pais quando ainda criança, mas afastou-se da Igreja por muito tempo. “Uma amiga que foi crismada no ano passado me incentivou e, após eu participar de um retiro, me apaixonei por Jesus e decidi crismar, porque tenho certeza de que será bom para mim e para minha família. Quero continuar e assumir a missão que Jesus me mostrar”, disse em entrevista ao Encontro Semanal. Lara Maria da Silva Pires, 14 anos, sempre participou da Igreja com o apoio da família. Ouvida, ela revelou o que a motiva a querer receber o Sacramento. “Quero crismar porque é um caminho para eu aprender mais sobre a Igreja e porque acredito que Deus tem um propósito para cada um e a Crisma ajuda a descobrirmos essa missão. Pretendo, após crismar, ajudar os novos crismandos de alguma forma”.


Crisma, extensão do Batismo

Batismo e Crisma são os mesmos Sacramentos, divididos, na Iniciação Cristã, em duas idades: infantil e adulta. Entender a diferença de um e outro é muito simples, mas é necessário voltar à história. Por que a Igreja batiza crianças? No período da Cristandade, a partir do século IV, que se estabeleceu por 16 séculos, todos eram cristãos na Europa. Batizava-se a família inteira e as criancinhas, pois era certo que todos seriam educados no Cristianismo. Quando esse período acabou, as famílias deixaram de ser preparadas para educar os filhos na fé e o sentido de batizar crianças foi se perdendo. Por isso hoje a Igreja quer inserir em todas as comunidades o Rito da Iniciação Cristã de Adultos (RICA). “Hoje batizar está se perdendo e virando apenas uma obrigação mais social que religiosa. Por isso, quando uma pessoa adulta se aproxima da Igreja e fala que gostaria de ser batizada é diferente: ela irá começar toda uma vivência dentro da comunidade, na fé, irá se abrir à evangelização e de fato irá assumir o seu Batismo”, explica. Para essa pessoa, segundo o padre, “o Batismo é assumido e, na Crisma, esse cristão assumido e apaixonado por Cristo nem precisará de catequese, pois ele já está inserido na comunidade. É um adulto na fé”.

Voltemos ao estado de graça, citado no início da reportagem. Depois de passar por uma catequese que apresenta Jesus Cristo por meio do Evangelho, que insere os crismandos nas atividades pastorais da Igreja, a pessoa estará preparada para receber a Crisma, pois ela estará apaixonada pelo Senhor. “Por si só vai dizer: ‘Eu quero ser crismado’, sem que ninguém o force, nem o obrigue. Ele não irá se crismar porque chegou a hora, mas porque ele passou por todo um processo de evangelização. O jovem terá confessado os seus pecados e estará em estado de graça para receber pela unção com o óleo do crisma, o selo do Espírito Santo”, conclui padre Nilson.


Publicada em 2007, pelo sumo pontífice Bento XVI, aos bispos, presbíteros, às pessoas consagradas e a todo o Povo de Deus, a Carta Encíclica Sobre a Esperança Cristã (SPE SALVI) esclarece importantes pontos sobre a fé cristã. Dividido em sete capítulos e 81 páginas, a publicação é introduzida com a passagem da Carta de São Paulo aos Romanos (8, 24) “É na esperança que fomos salvos”.

Carregada de reflexões filosóficas e teológicas, o texto não perde a simplicidade e pode ser entendido por qualquer leigo. Segundo Bento XVI, com o dom da fé as pessoas estão munidas de uma importante arma para enfrentar o tempo presente, “ainda que custoso”. O pontífice salienta que a redenção é oferecida a todos porque nos foi dada a esperança.

Ao longo de todo o texto, fé e esperança se entrelaçam a ponto de o papa escrever que “esperança equivale à fé” e esclarece que o elemento distintivo do cristianismo é o fato de os cristãos terem um futuro, ou seja, a sua vida não acaba no vazio. O encontro com Cristo é a essência, o sentido e o fundamento da esperança. Porém, ultrapassa o entendimento humano. “A fé é a substância das coisas que se esperam; a prova das coisas que não se veem” (Santo Tomás de Aquino). O papa relata que o fato de existir um futuro além da vida na terra para os cristãos muda tudo, de modo que “o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes, nas futuras”.

O texto explica também o conceito de esperança baseada sobre a fé no Novo Testamento e na Igreja primitiva; faz o questionamento “a esperança cristã é individualista?” e responde que “Feliz é o povo cujo Deus é o Senhor”, que a esperança cristã só se realiza a partir do momento que nos preocupamos com o “nós”. Para isso, orienta o Santo Padre, é importante promover a caridade, que procede de um coração puro, de uma consciência reta e de uma fé sincera (1Tm 1,5).

A vida eterna, caminho que nem todos buscam, conforme o papa afirma, por ser pensado por alguns como infinita que se tornaria fastidioso e insuportável, justamente por não ter fim, não deve ser interpretado como a vida terrena em que é calculada pelo nosso tempo cronológico, nos dias do calendário. Ele exorta que devemos pensar que é um incessante mergulhar na vastidão do ser e no amor infinito ou o instante repleto de satisfação.

Bento XVI ainda reflete sobre o sofrimento humano, ponto que ele afirma que pode ser enfrentado, mas jamais eliminado do mundo. Isso porque o sofrimento é intrínseco à vida. O motivo: a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, cura o homem, diferente do seu evitar ou a fuga diante da dor. “Precisamente os homens, na tentativa de evitar qualquer sofrimento, procuram esquivar-se de tudo o que poderia significar padecimento, onde querem evitar a canseira e o sofrimento por causa da verdade, do amor, do bem, descambam numa vida vazia, na qual provavelmente já quase não existe dor, mas experimenta-se muito mais a obscura sensação da falta de sentido e da solidão”.

Spe Salvi é uma carta que merece ser lida por todos os cristãos, para o indispensável entender da vida cristã, da fé e da esperança. Esperança essa que nos revigora de maneira performativa (muda a vida) e não apenas informativa (comunicação de realidades). Mesmo para aqueles que fazem o seu protesto contra Deus, por causa das injustiças (pág. 68), a leitura se faz necessária para pensar sobre a verdade cristã de que, um mundo sem Deus, é um mundo sem esperança. Para entender que Deus é justiça e também graça, orienta Bento XVI, “isto podemos sabê-la fixando o olhar em Cristo crucificado e ressuscitado”.


Após quatro edições sobre o Sacramento do Batismo e uma que introduziu ao Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), apresentamos uma proposta da Igreja que colabora diretamente para as crianças “batizadas serem sal da terra e luz do mundo” (edição 47), testemunhas do Cristo ressuscitado a partir da vivência do Evangelho.

Trata-se da Infância e Adolescência Missionária (IAM), que tem em comum com as outras três Pontifícias Obras Missionárias (POM), “o objetivo de promover o espírito missionário universal, no seio do Povo de Deus”, conforme exorta São João Paulo II, na Carta Encíclica Redemptoris Missio, sobre a validade permanente do mandato missionário.

A Infância Missionária, como é mais conhecida, hoje presente em 127 países, celebra em 2015, 172 anos de fundação. Foi criada pelo bispo francês Dom Carlos Forbin-Janson em 19 de maio de 1843, na cidade de Nancy, França, a partir do olhar sensível do bispo para com as crianças chinesas da época, que viviam em situação de miséria e sofrimento. Este, portanto, sempre foi o carisma da IAM, o cuidado e a atenção às necessidades além-fronteiras, observadas nas cores dos cinco continentes.

Protagonismo 

Mas como crianças podem desde cedo olhar para a vastidão do mundo com tamanha maturidade? Dom Carlos propôs a Paulina Jaricot, responsável pelo início da Propagação da Fé, outra Obra Missionária, a ideia de incentivar as crianças da França a recitar uma Ave-Maria por dia e doar uma moeda por mês para auxiliar crianças necessitadas de todo o mundo. Era a primeira vez na história que a Igreja confiava às crianças um papel missionário específico: salvar inocentes, para fazer delas pequenos discípulos missionários. O trabalho continua. No ano passado, as POM do Brasil arrecadaram com os cofrinhos missionários, espalhado por todo o país, mais de 10 mil reais, enviados para ajudar as crianças mais necessitadas em todo o mundo.

O Encontro Semanal entrevistou o secretário nacional da IAM, padre André Luiz de Negreiros, que destacou a importância da Obra para a dimensão missionária. “É a menina dos olhos, pois essas crianças e adolescentes assumirão futuramente a sua vocação missionária nas comunidades e além-fronteiras”.

Na Arquidiocese de Goiânia, a Infância Missionária está presente há 22 anos e atua hoje, em 15 paróquias, com 35 grupos e conta com 350 crianças e adolescentes missionários. “Nosso maior desafio é conseguir pessoas que se comprometam com esse importante trabalho”, diz a coordenadora arquidiocesana, Edna Moreira de Carvalho. Ao comentar sobre a identidade da criança missionária, ela não economiza palavras. “Você conhece de cara a criança da Infância e Adolescência Missionária porque é um ser especial, diferente, comprometida com o próximo, atenta aos problemas do mundo, estudiosa e educada, que respeita os colegas, os mais velhos e a natureza”. São João Paulo II também via o potencial da IAM. “É o fruto novo no coração da Igreja. Já no presente as crianças e adolescentes dão sinais de que podem também construir um mundo melhor”.


Testemunhos

Mariana Faleiro, 10 anos, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, da Vila Nova, participa da IAM há três anos. Apesar da pouca idade, ela demonstra maturidade e revela o seu amor pelas missões e pelas crianças do mundo inteiro. “Eu amo a Infância Missionária porque se preocupa com as crianças abandonadas, fora da escola e nas ruas; se eu pudesse, todas participavam dessa Obra maravilhosa e todas as paróquias teriam grupos”. Quando adulta, ela já sabe o que vai ser. “Estilista e missionária; quero poder ir a outros países, conviver com pessoas que sofrem e ajudá-las”.

Com 14 anos, Mariana Souza, já tem mais de quatro anos na Infância e Adolescência Missionária, caminhada que ela vê como fundamental para a sua vida cristã. “Eu aprendi a me comunicar, a respeitar o próximo e a me dedicar mais aos estudos”, conta. Os sofrimentos do mundo também a preocupam “É muito triste ver tantas crianças sofrendo no mundo, por isso eu ajudo com o cofrinho, partilhando o que eu tenho com os mais necessitados”.

Padre André acredita no protagonismo missionário a partir dos primeiros anos de vida, mas ele ressalta que a Igreja precisa conhecer mais a Infância e Adolescência Missionária. “A Igreja precisa conhecer a IAM e os demais trabalhos infantis, pois as crianças carregam uma responsabilidade muito grande também na evangelização; infelizmente as crianças e adolescentes são vistos como ‘enfeites’ de missas, procissões ou eventos e não como missionários que atuam nas bases”. No Brasil, a Obra está presente em todos os estados, com 30 mil grupos e 700 mil crianças e adolescentes envolvidos.

Programa de Vida

1 – Tornar Jesus conhecido e amado
2 – Colocar-se à disposição de todos com alegria
3 – Repartir os nossos bens com os que não têm, mesmo à custa de sacrifícios
4 – Rezar todos os dias pelas crianças e adolescentes do mundo inteiro
5 – Louvar a agradecer a Deus pelos dons recebidos
6 – Manter-se bem informado sobre os acontecimentos que envolvem as pessoas em todos os continentes
7 – Reconhecer o que é bom na vida e cultura dos outros povos, respeitando-os e valorizando-os
8 – Ser bem comportado e responsável em casa, na escola, na comunidade, evangelizando com o exemplo da própria vida
9 – Nunca desanimar diante das dificuldades
10 – Tornar Nossa Senhora, mãe de todos os povos, conhecida e amada


“Valorizar e promover a pessoa idosa, dando-lhe a oportunidade para melhorar sua qualidade de vida, respeitando seus direitos por um processo educativo integrado à sua família e à comunidade”. Essa é a missão da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI), que no ano passado celebrou 10 anos de fundação.

“Na prática, quer dizer fazer visitas domiciliares, para dar atenção às pessoas que vivem à margem da sociedade, com orientações espirituais, de saúde, prevenção de acidentes, cuidados com a prevenção de doenças, e orientações quanto ao exercício dos direitos constitucionais de cidadania, além de fornecer dados sobre a situação dos idosos no Brasil ao Ministério da Saúde”, explica o coordenador arquidiocesano da pastoral Elesio Dino Fonseca.

A pastoral atua na Arquidiocese de Goiânia desde 2005. Já esteve presente em 22 paróquias, mas foi reduzida a três. Elesio diz que são inúmeros os desafios para manter a PPI. “Devido a dificuldades financeiras e também pela falta de voluntários, o trabalho foi praticamente interrompido, permanecendo apenas em três paróquias”.

Frutos

Atualmente a pastoral conta com um representante no Conselho Municipal da Pessoa Idosa de Goiânia e de Trindade. A PPI também se orgulha de ter participado dos esforços que culminaram com a criação da Delegacia de Proteção ao Idoso de Goiânia e ter colaborado, em anos passados, com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) na distribuição de cobertores aos necessitados.

Recentemente a pastoral participou de um dia de palestras para pessoas idosas, realizado no Céu das Artes em Trindade, em que esteve presente representante da Administração Municipal, uma pedagoga, um fisioterapeuta, entre outros, motivando a realização de exercícios físicos, a prevenção de acidentes domésticos e a leitura.

Os voluntários são os chamados líderes comunitários, que são enviados em missão e têm como ponto central visitas às pessoas idosas, com 60 anos de idade ou mais, em especial àquelas em condição de fragilidade e situação de pobreza e abandono. O lema da pastoral baseia-se no versículo 12 do Salmo 90 (89), “Ensinai-nos a bem contar os nossos anos, e dai ao nosso coração sabedoria!”, em que o salmista apresenta uma visão realista e questiona: “O que é a vida humana perante a eternidade de Deus?”. Surge, então, a súplica para que o Senhor preencha essa vida breve com alegria, júbilo e sabedoria.

Reestruturação 

De acordo com Elesio, a nova agenda de trabalho e de formação de novos líderes está sendo elaborada. A coordenação irá realizar uma reciclagem para os voluntários já treinados no segundo semestre deste ano. Em dezembro do ano passado, já houve uma assembleia da pastoral, no Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF). A PPI estuda também a possibilidade de convidar outras pastorais e grupos de leigos ou ministérios que já fazem visitas domiciliares para se juntarem aos trabalhos.

Números

A pastoral atendeu no ano passado 171.515 pessoas no Brasil e 3.165 no Estado de Goiás. Na Arquidiocese de Goiânia foram 276.
Mais informações no site www.pastoraldapessoaidosa.org.br. A PPI em Goiânia está presente na seguinte página: www.facebook.com/ppigoiania

Natural de Cumari (GO), monsenhor João Dias Netto, 86 anos, era o primogênito da família de 16 irmãos, hoje nove vivos. Funcionário público da Empresa de Correios e Telégrafos, até 1992, o seu sonho sempre foi “servir ao Senhor como padre”, como bem revelou em entrevista sua irmã mais nova, Maria das Graças Araújo, 66 anos, com quem morava no centro de Goiânia.

Monsenhor João Dias nasceu com a vocação sacerdotal, conforme declarou a irmã, mas seu pai, João Dias Araújo, não deixava o filho ingressar no seminário. “De tanto o meu irmão insistir, papai deu de presente a ele a permissão para realizar o seu sonho em 1950”. Mas o pai veio a falecer no ano seguinte, em maio de 1951. Agora, arrimo da família, o sonho sacerdotal teve que ser novamente adiado. Daí em diante ele seria pai e irmão.

Em 1988 falece a mãe, Maria Luzia de Araújo, de quem sempre cuidou. Depois disso, ele começou um curso intensivo devido à idade, em busca do sacerdócio. O arcebispo emérito, Dom Antonio Ribeiro, disse que ia ordená-lo diácono permanente, mas o monsenhor queria ser padre. “Ele continuou o curso e eu o ordenei em 24 de março de 1994”, comenta o arcebispo. “Monsenhor João Dias era um sacerdote muito zeloso, dedicado e fiel à Igreja”, elogia Dom Antonio.

Na última quinta-feira (16) encerrou-se na terra a peregrinação e a bela história vocacional desse padre da Igreja de Goiânia que por último foi vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora (Catedral) e também prestava serviços pastorais nas Paróquias São Pedro e São Paulo, da Vila Finsocial e Nossa Senhora da Libertação, do Jardim Liberdade. Monsenhor João faleceu em decorrência de uma parada cardíaca, no Hospital Santa Helena. A missa de corpo presente foi celebrada na Catedral por Dom Antonio e o sepultamento aconteceu logo depois, no Cemitério Santana, na capital. Monsenhor João Dias tinha 21 anos de sacerdócio. No fim da entrevista, Maria das Graças, a irmã, confessou: “Agora, sim, eu fiquei órfã e sinto muito”. É que o pai faleceu no ano seguinte ao seu nascimento e o padre era, de fato, o pai dela.


Os cidadãos de quaisquer sociedades são portadores de garantias e privilégios do direito internacional e das constituições nacionais: liberdade individual, livre pensamento e fé, liberdade de ir e vir, liberdade de palavra, direito à justiça e à propriedade, direito ao trabalho, à educação e à saúde.

A cidadania é salvaguardada por três direitos: civis, políticos e sociais. Analisando esses três tipos e, considerando que a cidadania consiste na sua conquista, o grajauense, infelizmente, é um cidadão incompleto, principalmente do ponto de vista dos direitos sociais. São eles: direito à saúde, à educação básica, a programas habitacionais, transporte coletivo, previdência, acesso ao sistema judiciário, previdência, lazer.

Mesmo que reconhecidos como direitos dos cidadãos apenas no século passado, em Grajaú vemos a usurpação da maioria deles. Na saúde temos o exemplo da maternidade do Hospital São Francisco de Assis, fechada desde 12 de janeiro por falta de organização política e diálogo. É um direito básico negado às classes pobres que representa a grande fatia da população de Grajaú e Região. O jurista e ex-ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco, Rubens Ricupero diz que “qualquer sociedade será julgada pela maneira como trata os mais pobres, os mais frágeis, os mais vulneráveis. Esse é o sentido principal da ação política”.

Na educação, algumas escolas da rede pública municipal na zona rural ainda não deram início ao ano letivo. Até o básico nos falta. O transporte coletivo funcionou quatro meses no município em 2014 e, mesmo com 66 mil habitantes, Grajaú continua refém apenas dos serviços de mototaxi, com valores de viagens sem nenhuma regulação.

Direito ao lazer. Começamos a aproveitá-lo com o Estádio Municipal. Obra que levou décadas para ser concluída e só agora tem as portas abertas à população. Temos também o campo soçaite da Cidade Alta. Mas esse direito fica apenas no futebol. Fora isso, não temos uma praça digna que ofereça lazer: aparelhos para exercícios, quadras poliesportivas, parquinhos para crianças.

Na prática, temos menos direitos ainda...

A reflexão torna-se ainda mais “injusta” para nós grajauenses quando analisamos que, mesmo sendo detentores de poucos direitos, ou seja, cidadãos incompletos, a cidadania é dividida ainda em formal e real. A formal refere-se àquela garantida constitucionalmente, mas, mesmo prevista em lei, para usá-las, os indivíduos têm de lutar por elas.

A cidadania real é aquela usufruída no dia a dia. É a partir dela que podemos dizer que temos uma sociedade igual. Mas na prática não é assim em quase nenhum lugar. Basta comparar a educação que o Poder Público nos oferece com a particular desfrutada pelas classes mais abastadas. Será que os alunos de uma e outra têm condições de competir em igualdade? Este é um exemplo de cidadania formal conquistada (direito à educação), mas na prática, a cidadania real é injusta, pois possibilita a estruturação desigual da sociedade. Claro que o aluno da escola particular se dará melhor.

Por tudo isso é que o grajauese, nos 204 anos de Grajaú, ainda é um cidadão incompleto. Segundo o sociólogo e historiador mineiro, José Murilo de Carvalho, o cidadão pleno é titular dos três direitos; o incompleto possui apenas alguns direitos e os não-cidadãos não gozam de nenhum direito.


Nas últimas quatro edições pudemos acompanhar explanações acerca do sacramento do Batismo, porta de entrada pela qual os homens se tornam parte do corpo místico de Cristo, membros da Igreja. Nesse período, foi possível compreender o real sentido do sacramento, tudo que envolve a sua preparação e a posterior missão do batizado.  Nesta edição vamos falar a respeito do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), que é descrito, logo nas preliminares do documento, no que refere diretamente à iniciação cristã para adultos, como destinado “àqueles adultos que, depois de terem escutado o anúncio do mistério de Cristo, movidos pelo Espírito Santo que lhes abre o coração, consciente e livremente, buscam o Deus vivo e tomam o caminho da fé e da conversão mediante os ritos que o integram, vão sendo espiritualmente ajudados na sua preparação para, na devida altura, receberem com fruto os próprios sacramentos”. Porém, é importante ressaltar que por adulto se entende a pessoa na fase em que já tem a capacidade de fazer o uso da razão. Segundo o Código do Direito Canônico, uma criança por volta dos sete anos já se enquadra nesse perfil. Padre Arthur Freitas, administrador das paróquias São Pio X e São Pedro Apóstolo, diz que o ritual compreende o processo pelo qual se forma o cristão para, entre outras coisas, receber os sacramentos de iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia. E ressalta que é diferente do processo em preparação para batismo de crianças que não fazem o uso da razão, pelo tradicional curso de pais e padrinhos.

Conhecer a Cristo

O RICA foi reestabelecido pela Igreja a partir do Concílio Vaticano II, pela necessidade de uma mudança no processo catecumenal – iniciação cristã. Atualmente, diante de uma realidade muito próxima à da época apostólica, um mundo paganizado, em que as pessoas se afastaram muito de Deus e da Igreja, faz-se a retomada do RICA. Padre Arthur destaca que apesar de muitos se declararem cristãos, não conseguem relacionar a fé ao cotidiano da própria vida.  A nova evangelização precisa abarcar o grande número de pessoas que muitas vezes só procuram a Igreja já na fase adulta da vida. A transmissão da fé pela família encontra dificuldade nos dias atuais, por motivos diversos. O RICA apresenta um método e um itinerário de formação e vivência cristãs que visa, sobretudo, à formação de Cristo na pessoa, por meio de diversas etapas e ritos ao longo processo. O ritual não se restringe apenas aos não batizados, mas diz respeito a batizados que não viveram a experiência com a fé ou que precisam completar a iniciação cristã, sendo que os não batizados são chamados catecúmenos e os já batizados, catequizandos.

Estar no caminho

O Ritual de Iniciação Cristã tem a grande preocupação de não dissociar os sacramentos de iniciação e sim mostrar a unidade que existe entre eles. No processo do RICA os sacramentos são recebidos juntos na noite da Vigília Pascal. Por motivos pastorais, pela importante presença do bispo na ministração do sacramento da Crisma, é indicado que ele seja recebido durante o período pascal que se finda na Celebração de Pentecostes. Durante a formação, cada pessoa é acompanhada individualmente e existe uma participação mais efetiva da comunidade, não só os catequistas são agentes do processo catacumenal, mas toda a paróquia: ministros, padre, agentes de pastorais e a assembleia. Isso é possível porque ao longo da formação todos terão participação nos ritos de passagem, ritos de entregas e dos diversos momentos que marcam essa passagem de uma etapa para outra no caminho da vida cristã.

A Experiência da Fé

Por meio do processo catecumenal, a pessoa é colocada no “caminho”, caminho esse que padre
Arthur ressalta que não acaba nessa vida, por isso mesmo a catequese não deve ser entendida como todo, mas sim como parte desse caminhar rumo ao Pai. Segundo o padre, essa é grande diferença entre o processo hoje adotado ainda pela maioria das paróquias e o que propõe o RICA. “A catequese passa a ser parte do processo, e não o processo em si. Ela é importantíssima, porém não é tudo.

Quantas pessoas chegam à catequese sem serem evangelizadas? Sem terem recebido o Querigma – o primeiro anúncio? A catequese é o ensino progressivo da fé, mas como vou ensinar a fé para quem não tem a fé?”. O padre ainda ressalta que talvez isso seja o motivo de tantos esforços com poucos frutos, pois a fé não vem pelo conhecimento, mas pela experiência. Depois da experiência pessoal é que vem o desejo e a paixão para conhecer mais. Quanto mais se ama mais se conhece, e quanto mais se conhece mais se ama. Na atualidade não se pode pressupor que o Querigma foi apresentado em casa à criança, não se pode mais pressupor que a criança já chega à catequese com os rudimentos da fé, porque essa não é a realidade. Papa Francisco na missa que presidiu na capela da Casa de Santa Marta, no ano de 2014, destacou que “a fé confessada é vida vivida”. Espera-se que o RICA aos poucos venha substituir o processo hoje adotado nas catequeses.

Reportagem: Talita Salgado. Fotos: Caio Cézar