Família cristã sem abrir mão de uma vida normal

Qual é o momento ideal para ter um filho? O que é necessário possuir, em termos de poder aquisitivo e formação, para enfim dar início à própria família? Quando de fato o casal está preparado para dar esse passo tão importante? As questões são inúmeras e requerem atenção aos projetos de Deus. Além disso, há também a cobrança da família, dos amigos e da sociedade.

Diante de tantas direções que o mundo nos impõe, temos assistido cada vez mais, na sociedade, a queda da taxa de natalidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1960 e 2005, o número de filhos por mulher caiu de seis para dois no Brasil. No mundo, a regulação da taxa de natalidade é feita principalmente através dos métodos artificiais contraceptivos.
O primeiro e mais importante documento da Igreja Católica sobre a regulação da natalidade, Humanae Vitae (Da Vida Humana), escrito pelo papa Paulo VI, explica que o amor fecundo não se esgota na comunhão entre os cônjuges. “O matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos”.

A Igreja se preocupa com os modelos de regulação da natalidade adotados pelas famílias e garante ‒ através dos autênticos valores humanos, ensinamentos naturais, morais e evangélicos ‒ os direito e deveres para com a vida. “Os filhos são um grande dom de Deus, e a fecundidade pertence à natureza da própria relação entre os cônjuges, de modo que o matrimônio comporta uma fecundidade natural e os filhos devem ser desejados e acolhidos”, explica o padre Luiz Henrique Brandão, professor de teologia moral e assessor do grupo paternidade e maternidade responsável, no Centro da Família Coração de Jesus, em Goiânia.

No que diz respeito ao elemento econômico na hora de decidir sobre a procriação, a Igreja defende tratar-se de um ponto importante, segundo o padre Luiz Henrique. “Este elemento não pode ser negligenciado, pois passa também pela paternidade e maternidade responsável”, mas ressalta que a sociedade criou um mito em torno das condições socioeconômicas na hora de ter os seus filhos.
“O nascimento de um filho é considerado oneroso e os pais temem concebê-los e não conseguir dar a eles a possibilidade de atingir o padrão ideal, por isso, os evitam. Um filho é um tesouro e a sua presença enriquece uma família, de tal modo que ele não pode ser comparado com posses materiais”, conclui padre Luiz Henrique.

Dra. Marli Virgínia - especialista em métodos naturais
A Igreja apoia e incentiva o planejamento natural da família, pelos métodos da temperatura basal, da ovulação ou Billings, da autoapalpação cervical. A médica ginecologista e assessora do Centro da Família, Dra. Marli Virgínia, explica o que são esses métodos. “São reguladores que se baseiam no ciclo de fertilidade feminina que refletem no corpo da mulher a cada 28 ou 30 dias. Como se baseiam esses métodos? O casal que deseja ter filho tem que ter relação sexual nesse período de fertilidade. E aqueles que não desejam devem ter relações nos períodos inférteis”.

São métodos que exigem, na visão da Igreja, “empenho sério e muitos esforços, individuais, familiares e sociais”. Dra. Marli Virgínia destaca que além de eficazes são saudáveis e têm custo zero, por isso pouco se ouve falar deles. “Nós vivemos em uma sociedade de consumo, portanto os métodos que se vendem e a sociedade usa são aqueles que têm um grande patrocínio por trás”. Ela também adverte para os riscos que correm as mulheres que usam os métodos artificiais de contracepção. "Quem usa esses métodos podem ter alterações muito pequenas como ganho e perda de peso, aumento de acne, oleosidade na pele, queda de cabelo. E as muito graves, câncer de mama, de fígado, trombose, AVC, principalmente isquêmico. Agora, porque tem tantas pessoas que usam se tem tantas complicações? Porque não são muitas pessoas que têm essas complicações, porém, as pessoas que têm, normalmente são complicações sérias. Eu já tive uma paciente com trombose de veia cava aos 22 anos de idade. Eu perdi uma amiga que teve um AVC isquêmico com a primeira cartela de pílula anticoncepcional que ela usou. Eu tenho um colega ginecologista, que um dia ele estava desesperado porque a esposa dele estava com câncer de fígado, e ele falou, eu dei o câncer de presente para a minha mulher. Isso nós não vemos todos os dias ou as pessoas não sabem o que levou àquela situação. Em países onde tem um controle maior, por exemplo na França, tem um monte de anticoncepcionais que são usados em larga escala no Brasil que foram proibidos naquele país por causa dessas alterações cardiovasculares".

Em Goiânia, já existem muitas famílias que aderiram ao planejamento familiar natural. O casal Leonardo Ferreira e Valmélia Rosa da Silva, da Paróquia São Paulo Apóstolo, são pais de seis filhos.

Eles fizeram uma experiência de um ano no Centro da Família onde reforçaram a opção de ser uma família numerosa e aberta à vida. “As técnicas de regulação da fertilidade nos permitiram ter mais intimidade e proximidade; com elas, a mulher pode viver com mais intensidade a vocação de mãe”, sublinha Leonardo. “Filho é sempre uma bênção de Deus. Pode dar trabalho, mas ele é muito mais que isso, é amor. Muitos falam que somos corajosos, mas essa coragem vem de Deus que nos dá forças para viver o seu plano em nossas vidas. Vale a pena”, completou Valmélia.

Sandrina Magalhães e Thiago Henrique têm dois filhos. Eles dizem estar “muito felizes com a opção de planejamento familiar natural”. Eles utilizam os métodos desde 2010, quando fizeram o curso no Centro da Família com a Dra. Marli. Conciliar a vida social com a cristã, no entanto, não é fácil. “Há muitas forças e correntes de pensamento contrários aos valores cristãos católicos, mas Deus nos chamou a servi-lo através do matrimônio, e eu e meu esposo estamos lutando para corresponder”.

Isis Fernandes, esposa de Alexandre Fideles, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, também tem dois filhos; ela parou de usar os métodos contraceptivos artificiais em 2010. O casal também fez o curso no Centro da Família e explica o que mudou em suas vidas. “O custo é zero, não altera o funcionamento do corpo feminino nem o desejo sexual. Casais que adotam os métodos naturais têm mais relações sexuais do que aqueles que usam os artificiais e estamos abertos à ação de Deus em nossas vidas”.

Casados há três anos, Meima Graciella e Gustavo Franco, da Paróquia São João Evangelista, ainda não têm filhos. Eles também participaram de formações no Centro da Família. Sobre a proposta da Igreja, eles afirmam que está de acordo com a natureza humana. “A proposta da Igreja é uma opção pela vida e pelo amor. É para o bem do casal que sejam fecundos. Os filhos são dons de Deus e é este o funcionamento correto de uma família cristã”.

Conheça o Centro da Família Coração de Jesus
Rua 55, Qd. 117, Lote 40, n. 887, Setor Central. Goiânia. 2ª-feira a sábado, em horário comercial. Fone: 3087-7702.

Blog www.centrodafamiliacj.worpress.com
E-mail centrodafamiliacj@hotmail.com
Facebook: Centro da Família CJ

Fotos: Caio Cézar
Arte e diagramação do Jornal: Ana Paula Mota
Reportagem: Fúlvio Costa
Revisão: Jane Greco e Thais de Oliveira

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Um ente querido sofre há anos com uma doença que já foi diagnosticada pelos médicos sem possibilidades de reversão. É um momento crítico e delicado, ele sofre dia após dia, principalmente com dores intensas. Qual o procedimento mais correto a seguir ao se deparar com essa difícil situação? 

“A boa prática médica é o casamento entre o conhecimento e o cuidado humano” (Platão)

Esclarecer e resolver questões éticas suscitadas pelos avanços e pela aplicação da medicina e da biologia. Esse é o papel da bioética que comemora 44 anos de existência, tendo como referencial os trabalho de reflexão de Van Ransselaer Potter (EUA) e posteriormente o livro “Bioética: ponte para o futuro”, de 1970. A data nos leva a refletir sobre os seus principais temas abordados, entre eles a eutanásia, a distanásia e a ortotanásia.

As nomenclaturas são estranhas e um tanto distantes das discussões comuns, mas são fundamentais e estão mais próximas do que parecem. Antes de tudo se faz necessário entender cada termo.

Eutanásia: do grego, eu (boa) e thanatos (morte) pode ser traduzido como “boa morte” ou “morte apropriada”; proposta por Francis Bacon em 1623, em sua obra “Historia vitae et mortis”, como sendo o “tratamento adequado às doenças incuráveis”.

Distanásia: do grego, dys (mal) e thanatos, (morte) cujo significado é ato defeituoso, morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento. Significa o prolongamento exagerado da agonia que inevitavelmente leva à morte com sofrimento físico ou psicológico do indivíduo lúcido.

Ortotanásia: do vocábulo grego orthos (certo) e thanatos (morte) significa, etimologicamente, morte correta. É a atuação correta frente à morte. É a abordagem adequada diante de um paciente que está morrendo.

A Igreja Católica tem posição irrevogável sobre os três procedimentos. O Catecismo é claro a respeito da eutanásia e destaca que tal prática “constitui um assassinato” (§ 2324). Com o papa Pio XII, a Igreja posicionou-se pela primeira vez contrária a esse procedimento numa alocução aos médicos em 1957. Em 1980 o então papa São João Paulo II publicou a declaração sobre a eutanásia. O arcebispo de Goiânia, Dom Washington Cruz, explica a posição da Igreja. “A eutanásia atenta gravemente à dignidade da pessoa e ao respeito a Deus, seu Criador. Fere o mandamento divino de não matar; o sujeito não pode possuir autonomia de decisão sobrea a própria morte. A vida pertence a Deus”.

Dr. Nelson Jorge da Silva Júnior, do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Saúde e coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), diz que é difícil saber como a sociedade se posiciona, pois o tema é extremamente polêmico e gira em tono da legalidade, ética médica, crenças religiosas e a racionalidade pura. A discussão, na visão dele, precisa ser aberta e continuar. “Em alguns países a eutanásia é legalizada; em outros, já se discutiu muito e houve uma decisão de não aceitar nenhum tipo de eutanásia. Existe a necessidade de uma discussão ampla, não só restrita ao meio acadêmico, mas com diversos seguimentos da sociedade e a população em geral. Eticamente, nada justifica abreviar a vida humana”, pondera.

Padre Luiz Henrique Brandão de Figueiredo, professor de teologia moral, diz que dois elementos básicos devem preponderar sobre a escolha da decisão quando se trata de pacientes em fase terminal sem possibilidades de reversão. “O amor e a presença dos familiares que apoiam e rezam por seu irmão que está sofrendo devem prevalecer, colaborando para que ele aprenda a unir os seus sofrimentos aos de Cristo. Do ponto de vista ético, o paciente deve ser acompanhado pelos profissionais de saúde e pelos familiares até a sua morte natural, recebendo os devidos cuidados comuns paliativos”.

A legislação brasileira ampara das mais diversas formas a pessoa humana sobre o direito à vida. A Constituição Federal, artigo 1º, § 3, reconhece a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito. O artigo 5º, § 3 expressa que ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante, e o § 35 garante ao paciente recorrer ao judiciário para impedir qualquer intervenção ilícita no sue corpo contra a sua vontade. No Código Penal, a eutanásia é crime (artigo 121 § 3).

O Código de Ética Médica (CEM), por sua vez, através da resolução nº 1995/2012, do Conselho Federal de Medicina (CFM) fortalece a autonomia das decisões do paciente, desde que maior de idade e plenamente consciente, pode definir os limites terapêuticos na fase terminal. O objetivo é garantir o respeito no final da vida; evitar a distanásia que o desenvolvimento tecnológico pode provar, e perda da noção de limites. Já em 1987, a Associação Mundial de Medicina considerou, na Declaração de Madrid, a eutanásia como sendo um ato eticamente inadequado de, deliberadamente, terminar com a vida de um paciente.

Padre Luiz Antônio Bento, ex-assessor nacional da Comissão para a Vida e a Família e ex-coordenador da Comissão de Bioética, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pós-doutor em bioética (UFRJ), hoje docente em bioética e ética médica da Faculdade Ingá, em Maringá (PR), explica que primeiramente deve-se pensar no respeito à pessoa humana, quando se trata dos três procedimentos. “A pessoa é um ser completo, tanto físico quanto espiritual, e a atitude para com essa pessoa deve ser de respeito. O cuidado com quem está morrendo é, sobretudo, como agir se você respeita essa pessoa”. O estudioso justifica que a frase reconhece que deve prevalecer a medicina paliativa, ou seja, a ortotanásia. “A medicina paliativa intenta eliminar o sofrimento, enquanto que a eutanásia opta por eliminar a pessoa que sofre”.

Ele comenta ainda que no Brasil a discussão sobre a temática é elementar, mas destaca que organizações não governamentais estão a par do assunto, de modo especial a CNBB e defensores dos direitos humanos, além de denominações religiosas. Entre outras organizações estão as Comissões de Ética Profissional; Comissão de Ética Médica; Comitê de Bioética Clínica, Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos; Comitê Nacional de Ética em Pesquisa. “O apoio da sociedade civil e a condenação de abusos é fundamental para a eficácia dessas organizações”, ressalta.


A renovação paroquial exige novas formas de evangelizar tanto o meio urbano como o rural. Apesar de as comunidades rurais estarem distantes dos centros urbanos, também nessas áreas crescem problemas relativos ao vínculo comunitário (CNBB/Doc. 100)

Nas cidades elas podem parecer distantes da realidade, para alguns ficou num passado remoto e outros apenas guardam na lembrança as belas celebrações a céu aberto, nas casas e em pequenas capelas. Há também as pessoas que jamais conheceram as pequenas comunidades rurais, tão peculiares no seu modo de viver a fé cristã. O certo é que pouco se ouve falar delas, mas continuam vivas e fortes.

Os 27 municípios que compõem a Arquidiocese de Goiânia contam com cerca de 114 paróquias. Só no interior elas são 23, dessas, a maior parte das pequenas comunidades rurais se concentra nos vicariatos de Inhumas e Silvânia. A Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Bela Vista de Goiás, a 51 km da capital, é uma delas. Ao todo são 15 comunidades rurais, sendo algumas formadas em fazendas e outras em pequenos povoados.

A menos de três meses nessa paróquia, o padre José Luiz Fernando Nascimento de Oliveira visita as comunidades rurais uma vez ao mês. Essas localidades estão distantes da sede de 8 a 30 km e as vias são todas em estradas de chão. Para o sacerdote, muito já mudou em relação às antigas comunidades rurais, mas a fé do povo continua a mesma e sempre chama a atenção. “Para mim é uma maravilha viver esse espírito; o mais bonito é a alegria e a comunhão das pessoas com as celebrações”, comenta.
Geralmente as missas nas comunidades atendidas pelo padre José Luiz acontecem à noite. Os moradores das fazendas vizinhas se reúnem em uma casa e tudo é preparado com antecedência, inclusive o momento de partilha e confraternização após as celebrações. “As pessoas organizam um grande lanche comunitário e, ao término da missa, conversam e compartilham as suas vidas”.

O que mais dificulta os trabalhos, na visão do padre José Luiz, é a falta de mais padres para atender as comunidades. “Fico triste de ter a oportunidade de visitar as comunidades apenas uma vez ao mês, pois penso que as pessoas precisam de uma atenção maior da Igreja”. Ele, no entanto, faz um balanço positivo dessas comunidades. “A gente vê que o povo tem compromisso, é temente a Deus e a vida cristã nas comunidades rurais se faz diferente, principalmente pela falta de tantas ofertas do mundo que só existem nas cidades”.

A Paróquia Nosso Senhor do Bonfim de Silvânia tem 28 comunidades, das quais 19 são rurais. As mais distantes estão a 82 km da sede. A Paróquia São João Paulo II do município de Gameleira (GO) possui oito comunidades, sendo apenas a matriz na cidade. As duas paróquias são atendidas pelo padre Jovandir Batista da Silva que mora em Silvânia. As comunidades também são visitadas uma vez ao mês. Diferente de Bela Vista de Goiás, em Gameleira todas contam com capelas e as mudanças nos últimos anos têm aparecido. “As capelas são bem cuidadas, o povo tem procurado aprender a partir dos documentos da Igreja e há forte movimentação dos casais”, comemora.

As perspectivas são positivas nesse universo de comunidades atendidas pelo padre Jovandir e outros três sacerdotes. “O povo é sempre alegre, amigo e na comunidade procuramos organizar as pastorais e movimentos no sentido de buscar o futuro sempre com otimismo”. Mas ele ressalta que a disponibilidade de padres para o serviço nas comunidades rurais tem sido um apelo que merece mais atenção. “Dos três padres que atendem essas comunidades, apenas mais um é liberado para esse serviço. A Paróquia São João Paulo II clama com urgência por um padre exclusivo para ela”.

Fé e vida

Sirlene Maria de Sousa Cordeiro, 39 anos, sempre morou em Madeira do Mocambo, município de Gameleira. Ela explica que a comunidade está viva e forte; mesmo que a presença do padre se dê uma vez ao mês, a as pessoas se reúnem semanalmente. Na visão dela, a diferença da vida cristã no meio rural para zona urbana é que as pessoas estão mais comprometidas e unidas. “Temos os círculos bíblico todas as quintas-feiras e as pessoas não faltam. Há um compromisso muito grande e quando alguém precisa de ajuda, todos estão dispostos. Vejo que nas cidades muitas pessoas praticamente não conhecem o próprio vizinho”.

Valdomiro Hermes Vitor, 54 anos, atua na comunidade Divino Pai Eterno, da Região de fazendas do João de Deus, a 20 km de Silvânia, desde a sua juventude. A maioria das pessoas ali trabalha com a produção de leite e soja para a venda e consumo próprio. As celebrações da Palavra são frequentes e o povo faz a leitura orante da Bíblia semanalmente, em encontros que reúnem cerca de 30 pessoas. Entrevistado, ele relatou a importância das pequenas comunidades rurais para a Igreja. “São como as raízes das árvores; se você cortar ela vai cair e não irá mais dar frutos. Mas se zelamos, elas vão manter toda a árvore de pé”.


O que a Igreja tem feito para confortar as pessoas que perdem seus entes queridos? Nesse momento de dor e fragilidade, mais do que apenas os sentimentos de pesar, é indispensável abraçar, viver junto, compartilhar a dor e a esperança. A Igreja precisa começar a despertar para o drama das pessoas em situação de luto 

Com fé, no amor infinito e misericordioso do Senhor, roguemos pelo descanso eterno dos que partiram para a eternidade (Dom Washington Cruz, CP)

Todos nós, em um determinado momento, vamos nos deparar com a morte. Seja de um conhecido, de um amigo, de um familiar. A perda de alguém quase sempre acontece de forma inesperada; a dor é o primeiro sentimento que bate à porta e nos envolve; o luto pode durar dias, semanas, meses, anos e mudar as nossas vidas para sempre. Mas erguer a cabeça e reerguer o próprio sentido de viver é necessário, pois todos aqueles que estão ao nosso redor contam conosco, e a esperança em Jesus Cristo tem o poder de nos levantar para dar o próximo passo.

É neste momento, sempre difícil e amargo, que precisamos de apoio, ajuda, motivação e orações para seguir. Para compartilhar o sofrimento e ajudar a enxergar a luz da ressurreição, é que existe, na Arquidiocese de Goiânia, desde 2013, a Pastoral da Esperança. E é com ela que três famílias estão conseguindo superar a dor da perda de seus entes queridos.

Patrícia Paula Araújo, 31 anos, perdeu o sobrinho Rafael Araújo Rezende, 9 anos, em março. A criança teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. Logo depois foi constatado que ele estava com dengue. Essa foi a primeira família assistida pela Pastoral da Esperança. “Nós sofremos muito; minha irmã, mãe do Rafael, não aceitava, mas o apoio e a presença da Pastoral nos fortaleceu”, relembra Patrícia. O trabalho foi tão envolvente e confortante que ela decidiu participar do grupo. “Resolvi participar porque eu senti como dói perder alguém querido, e as palavras que foram levadas à minha família me incentivaram”.

Um mês depois, Goiacy Ribeiro Coelho dos Santos, 60 anos, perdeu o esposo Adalto Pereira dos Santos, 61 anos. Ele sofria de cálculo renal e, após uma cirurgia, teve um infarto. Adalto era pai de três filhas. “Foi desesperador porque estávamos em casa esperando ele voltar depois de uma cirurgia que ocorreu bem, mas o pior aconteceu”, conta a viúva. A Pastoral da Esperança foi também o apoio dessa família. “Os membros da pastoral nos passaram segurança, paz, tranquilidade, forças. É um trabalho muito especial que precisa crescer porque ajuda muitas famílias”.

Patrícia Ribeiro e Goiacy
A filha Patrícia Ribeiro dos Santos Araújo, 34 anos, se arrepia quando fala na pastoral. “São pessoas como nós, mas que se doam e em qualquer momento que precisamos, estão disponíveis. Foi uma experiência única que continua a nos ajudar, pois os encontros e orações ainda acontecem e eles estão sempre perguntando como nós estamos”, diz emocionada.

Para a família de Lânia Machado Alcântara, 49 anos, a perda do neto Victor Hugo Alcântara, que morreu de câncer no cérebro, em maio deste ano, foi ainda mais dura. Isso porque a mãe do garoto, Francislaine Alcântara, além de não aceitar, quis cometer suicídio. “A melhor coisa que nos aconteceu foi a Pastoral aparecer em nossas vidas; nos primeiros dias, minha filha não quis aceitar, ficou revoltada, mas depois ela até participou dos encontros e orações. Isso foi muito bonito”. Lânia criou amizade com os membros da Pastoral que estão sempre em contato com ela. “É muito bom saber que existem pessoas que se importam com a nossa perda. Eu vejo um trabalho muito bonito que precisa continuar”.

A pastoral está aberta a quem quiser participar, segundo Fabiana Pires Guimarães de Morais, membro do grupo na Paróquia Santa Luzia do bairro Novo Horizonte, em Goiânia. De acordo com ela, o trabalho é simples, mas importante e está intimamente ligado ao fundamento do Cristianismo. “Nós, cristãos, cremos que a morte não é o fim e, sim, o começo de uma vida plena e definitiva junto de Deus; portanto, a Pastoral da Esperança vem, pela oração e por testemunhos, confortar e orientar os enlutados”.

Atuação

A Pastoral da Esperança arquidiocesana se reúne para formação humana, psicológica e espiritual com o coordenador, padre Elenivaldo Manoel dos Santos. O trabalho consiste em acompanhar as famílias enlutadas, desde o velório até a missa de sétimo dia. De janeiro até agora, 12 famílias já foram assistidas e, em todas elas, o trabalho tem tido continuidade com encontros frequentes para orações e leitura da Bíblia.

Um subsídio chamado “Na Casa do Pai” ajuda nos encontros para exéquias, velório, sepultamento e missa. Ele contém o roteiro para sete encontros, além de orações diversas, passagens bíblicas, cantos e ladainhas.

Missão Esperança



Acontece anualmente nos cemitérios da capital e região metropolitana, onde os membros da Pastoral organizam a assistência religiosa nas salas de velório e dinamizam os trabalhos no dia 2 de novembro, Dia de Finados. Para este ano, já começaram as inscrições dos missionários que irão participar. “Com essa ação, a Igreja se faz presente nos cemitérios organizando celebrações, acolhimento e momentos de oração”, explica padre Elenivaldo. Ano passado, cerca de 350 pessoas se envolveram e este ano a expectativa é que 500 participem. As formações para os missionários começam no dia 24 de setembro. “A Pastoral da Esperança é a porta que as pessoas em situação de luto devem encontrar aberta. A Igreja é aquela ‘hospedeira’ à qual o Bom Samaritano, que é Jesus, confia os que Ele encontra caídos e feridos”, destaca o coordenador sobre a importância do serviço.
As inscrições dos missionários podem ser feitas a partir do dia 8 de setembro na Secretaria de Pastoral Arquidiocesana. Mais informações: 3223-0758.

Fotos: Caio Cézar