Não era essa a voz da torcida que os governantes do Brasil queriam ouvir dos brasileiros. Que o diga o Rei Pelé. A bandeira que eles aguardavam tremular não era a verde e amarela que um dia levou Fernando Collor de Melo do céu ao inferno. Os rostos pintados, como diz a propaganda da cerveja Brahma, eram para ser caracterizados para seguir atrás de “engarrafamento de trios elétricos” e não de uma multidão faminta por serviços públicos de qualidade. Nada do que eles imaginavam aconteceu. Os protestos no país do futebol e do carnaval têm tirado o sono da presidente Dilma Rousseff e o presidente da FIFA, Joseph Blatter.

A luta por 20 centavos a menos no preço das passagens no transporte público em São Paulo (SP) foi apenas o início de uma revolução que não pode terminar agora. Ainda dormimos sim, pois boa parcela da população não entende os protestos, mas o certo é que a juventude tem despertado dia após dia para a busca dos seus direitos e contra o aumento sem precedentes do custo de vida no Brasil. É no mínimo curioso ver os preços lá em cima enquanto o Governo (ou governos) gastam saldos elevados com duas competições que nenhum legado deixarão em nosso país. Após a euforia, restarão apenas débitos que caberão ao contribuinte pagá-las.

O Brasil, como nenhum país do velho terceiro mundo, ou os chamados atualmente de emergentes, teve a ousadia de fazer duas extravagâncias, como bem nomeou o Jornal inglês The Guardian, de uma vez só. Copa do Mundo 2014, Olimpíadas 2016, aliás, três: Copa das Confederações 2013, mas o Brasil de Lula sim.


Os brasileiros vão às ruas também porque a Copa do Mundo Brasil 2014 é mais cara que as três últimas edições do evento, somadas. Um estudo feito pela Consultoria Legislativa do Senado Federal deu conta de que as copas do Japão e Coreia, em 2002; Alemanha, em 2006; e África do Sul, em 2010, juntas, gastaram US$ 30 bilhões (US$ 16 bilhões, US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões, respectivamente). O Brasil sozinho conseguirá gastar US$ 40 bilhões em meio a denúncias de corrupção e obras superfaturadas na maioria das capitais.

As Olimpíadas não ficam atrás na extravagância pública. Só o espetáculo de abertura, para se ter ideia, custará R$ 132 milhões. Trata-se da segunda abertura de jogos olímpicos mais cara da história. Pequim em 2008, gastou R$ 196 milhões. O total gasto só em cerimônias, nas Olimpíadas 2016 será de R$ 384 milhões.
 
Custos
Festa de encerramento - R$ 55 milhões
Telões e fan fests - R$ 89 milhões
Entrega de medalhas - R$ 8,5 milhões
Produtora dos eventos - R$ 55 milhões.
Os custos totais das Olimpíadas 2016 serão de R$ 9,4 bilhões. A estimativa dos gastos era de R$ 5,6 bilhões, ou seja, ficou 68% maior do que o previsto há três anos.


Os gritos dos brasileiros estão longe de ter sido motivados apenas pelas passagens do transporte público. Os jovens gritam em todo o país por questões mais profundas como os conchavos entre governantes e empresas privadas que impactam diretamente de maneira negativa na vida da população. Os manifestantes, gritam ainda, pela liberdade de se manifestar. Se conseguirem aproveitar a base que está sendo construída aos poucos com os protestos apartidários, a democracia poderá enfim virar uma nova página na história do país. Mas essa aposta é alta, pois os caras-pintadas, em 1992, conseguiram derrubar um presidente e nem por isso essa base se solidificou. Mas aquela não era a turma da internet.




Certamente você já ouviu a expressão “uma imagem diz mais que mil palavras”. As sessões plenárias da Câmara Municipal de Vereadores lembram muito bem o ditado. Quando eu morava em Brasília, ouvia as sessões e, mesmo em Grajaú, as ouço pelo rádio, quando não estou cobrindo in loco. As discussões, como é normal no cenário legislativo, podem chegar ao extremo de forçar opositores a usar da violência, seja através de palavras ou de punho.

Comecei a acompanhar os trabalhos desenvolvidos nas terças e quartas-feiras, no Palácio João Viana Guará, no último mês de abril e me deparei com imagens que me provocaram a convidar os ouvintes do rádio a assistir as mesmas sessões em plenário para testemunharem que aquilo que ouvem não se trata das mesmas imagens.

As inflamações que os nobres ouvintes recebem em sinais de ondas de rádio e que podem ser até motivo de ironia para a população, na verdade trata-se apenas de emoções vazias dispensadas por alguns parlamentares. Ânimos exaltados, trocas de palavrões, e olhares que denunciam inimizade entre os vereadores: tudo isso é ouvido pelo rádio. O que não é visto, porém, é o abraço que alguns parlamentares dão entre si após os momentos de desarmonia. Quem está no plenário não acredita nas imagens que vê. Quem ouve o rádio entende que os vereadores não podem lançar olhar uns ao outros que a confusão poderá recomeçar. Pura ilusão formulada pelo inconsciente dos ouvintes.

Pode parecer pequeno ou insignificante abordar em artigo o comportamento dos guardiões do poder legislativo do município em plena atuação, mas tal ponto de vista vislumbrado aqui denuncia o (des) compromisso dos nossos parlamentares com a coisa pública e com a população. Quem eles defendem? Na Câmara de Grajaú, o voto, é o bem mais importante. Sempre que aprovam alguma lei, eles lembram que vereador A ou B tem um curral eleitoral neste ou naquele bairro. Aprovação de leis, portanto, depende dos votos que o parlamentar x angaria em um local em detrimento de outro? Em Grajaú, sim.

Quando entram em desacordo, oposição e situação, e depois se entendem em instantes através de abraços e piscar de olhos, o que na verdade tais atitudes denunciam? Os autores dos comportamentos mencionados deveriam saber se posicionar de maneira moral e discreta, sob pena de estarem levando abaixo suas reputações junto à população, mas eles não têm dimensão daquilo que pronunciam semanalmente.

Nas redes sociais, quando começam as sessões de terça-feira, ou seja, aquelas transmitidas ao vivo via rádio para a população, temos o feedback do que as pessoas pensam. É comum publicações como: A palhaçada começou; comédia da vida real...via rádio; quer rir? Ligue o rádio. Diante disso voltamos à questão: A quem nossos parlamentares falam e a quem interessa as sessões? Até que ponto essas sessões são tratadas com o respeito que deveriam? E a culpa é de quem?
Sessões transmitidas ao vivo x sessões interpretadas pela imprensa

O papel da imprensa não é transmitir, mas interpretar. Logo, ouvir apenas o foco das atenções, no caso os vereadores nas terças-feiras, não quer dizer que a imprensa esteja fazendo o seu papel. Pode ser chamado de imprensa os veículos de comunicação que exercem o jornalismo como função primordial. Se assim não fosse, poderíamos chamar de imprensa quaisquer meios entre o público e os interlocutores. O que o rádio hoje faz em Grajaú não é jornalismo e sim publicidade e propaganda das sessões da Câmara. Mais um motivo que torna as sessões de terças-feiras publicidade e não jornalismo é que as transmissões são vendidas.

Explicado e deixado claro a diferença de papéis, outro ponto que chama atenção e curiosidade é a atuação dos vereadores nas sessões de terças-feiras (transmitidas ao vivo) e nas quartas-feiras, que contam apenas com a interpretação da imprensa, de modo especial, através da internet nos sites e blogs.

Nas terças observamos a atuação mais forte e defensiva dos vereadores para as situações e posições que defendem. Neste momento a população pode conhecer quem é o parlamentar, como ele discursa, o que defende e suas ações a favor da coletividade. Na tribuna, de modo geral, eles atacam e defendem, mas, sobretudo, não se esquecem de que em tal localidade está o seu eleitorado que aguarda a sua atuação e a sua voz, quem sabe até um alô para o senhor Bené, via rádio. A tribuna é usada em defesa dos votos da eleição passada em vista da próxima.

Nas quartas, por sua vez, não vemos a mesma atuação, nem troca de farpas. Tudo leva a crer que é por tratar-se de sessão sem transmissão ao vivo. Ora, se não há público não tem porque o nobre parlamentar se esgoelar na tribuna. Não é como o padre que usa o ambão mesmo sem uma igreja lotada. Sem os eleitores ouvindo, resta apenas aprovar projetos apresentados nas terças. É contraditório esse modelo usado pela Câmara e acatado pela população, pois nos dias (terças) em que as indicações de projetos são apresentados e o uso da tribuna é certo, a casa recebe número significativo de cidadãos, mas, nas quartas, em que projetos são aprovados, a casa é vazia e as sessões, sem transmissões ao vivo. Seria o uso da tribuna, as discussões exaltadas e até a troca de palavrões e ofensas, as principais atrações das sessões plenárias da Câmara Municipal Poeta João Viana Guará, em Grajaú? E as posições dos parlamentares, seriam movidas a audiência?